16 de novembro de 2021

Primeira Impressão

CALL ME IF YOU GET LOST
Tyler, the Creator



Ouvir um álbum do Tyler, the Creator não é algo que pode ser considerado como um passeio no parque. O rapper é dono de uma musicalidade completamente única que pode afastar um público menos “casca grossa”. Em CALL ME IF YOU GET LOST, o seu sexto álbum da carreira, o Tyler volta a entrega outro complexo álbum que acerta quando ao não concessões para a sua sonoridade sem esquecer, porém, de criar novas nuances.

A melhor qualidade do álbum é a sua construção em forma de teia que interliga as canções de maneira orgânica, fluida e, por várias vezes, frenéticas. Apresentando uma vibe quase de mixtape conceitual, CALL ME IF YOU GET LOST emana uma sensação de estarmos ouvindo a radio dentro da cabeça de Tyler em que a cada nova música é como trocar as estações de influências que forma importantes para sua construção como artista. Essa sensação fica ainda mais nítida quando se saber que o rapper produziu todas as canções praticamente sozinho, tendo apenas duas faixas coprodutores. E é por isso que o álbum apresenta uma sonoridade bem mais rica e intrigada que o esperado, especialmente depois do áspero e intenso primeiro single Lumberjack.

A verdadeira natureza sonora do álbum é uma mistura descolada, natural e bem azeitada de hip hop, rap, soul, R&B, neo soul e jazz que emanam claras referencias dos anos noventa e começo dos dois mil que consegue ser nostálgica sem se apoiar descaradamente desse sentimento e, sim, criar algo moderno e, principalmente, criativo. WusYaName é perfeita tradução desse caminho tomado por Tyler: parceria com YoungBoy Never Broke Again e Ty Dolla Sign, a canção é uma envolvente e melódica mistura de R&B dol school com hip hop que se popularizou durante os anos noventa revisitado de maneira original. O mais interessante é que com a progressão do álbum, Tyler vai se arriscando ainda mais sonoramente.

Hot Wind Blows usa do sample de Slow Hot Wind dos compositores Henry Mancini e Norman Gimbel na voz de Penny Goodwin para criar uma atmosfera de quase um tema dos anos sessenta dos filmes do James Bond em um universo paralelo que deixa a gente coçando a cabeça e com um sorriso no rosto. Além disso, a canção tem a pachorra de entregar a melhor performance do Lil Wayne que já escutei. Acrescentando uma dose inesperada de eletrônico surge a Juggernaut com participação de Lil Uzi Vert e um inspirado Pharrell Williams. A canção fica ainda mais inusitada, pois é sucedida pela climática e épica hip hop com toques de jazz Wilshire com mais de oito minutos e meio. Essa passagem de bastão de músicas tão distintas poderia facilmente soar estranho, mas em CALL ME IF YOU GET LOST é realizado de forma segura e com uma sensação de ser a coisa mais fácil musicalmente para ser fazer que acrescenta pontos importante, mas não tira o fato que parte dessa força descomunal vem da presença por trás e na frente de Tyler, the Creator.

Dono de uma voz gutural e completamente distinta de qualquer rapper, Tyler, the Creator comanda cada faixa de uma maneira tão imponente e de uma força que transita entre o primal e o refinado com uma desenvoltura magistral. Massa apresenta um rapper contido, seguro e completamente hipnótico que vai se transformando em uma força da natureza quase incontrolável. Aumentando a rapidez do seu flow, Tyler entrega uma performance avassaladora na pungente Manifesto com presença de Domo Genesis. Existem erros em CALL ME IF YOU GET LOST que nem mesmo Tyler consegue resolver. O mais importante é o fato que algumas canções parecem terminar antes de se elevarem como poderiam. Apesar de quase uma hora de duração, o álbum apresenta várias canções com menos de três minutos e, por isso, cria essa sensação de um trabalho completo, mas ainda com momentos de quase lacunas sonoras. Outro problema é que nem sempre as composições conectaram comigo, mas, sinceramente, esse é um problema mais meu do que da ótima escrita do rapper e seus colaboradores. Alguns momentos que também merece destaque pela pesada Corso, a pomposa RunItUp e, por fim, a deliciosa soul anos setenta Sweet / I Thought You Wanted to Dance que poderia ser melhor se tivesse sido dividida em duas canções, mas é impossível não elogiar uma canção que se segura em quase dez minutos de duração. Tyler, the Creator é o tipo de artista que não faz música para ser amado pelas grandes massas mesmo que CALL ME IF YOU GET LOST seja o seu trabalho mais acessível. Entretanto, quem realmente embarcar nessa jornada será recompensado de maneira primorosa.


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