Doechii
Tenho acompanhado a carreira da Doechii e fico realmente feliz que, apesar de não ter alcançado exatamente o sucesso que merece, a rapper está sendo reconhecida com a indicação para Best New Artist no próxima Grammy. Além dessa indicação, a rapper recebeu mais duas devido ao lançamento da mixtape Alligator Bites Never Heal que dá uma amostra do seu potencial.
E digo amostra, pois apesar de ter dezenove faixas, o resultado final ainda deixa claro que a rapper ainda não encontrou perfeitamente o seu caminho e o equilíbrio para pegar o que a mesma consegue fazer e entregar de maneira soberana. Ainda parece que falta muitas arestas para ser aparadas aqui e ali, mas é também claro que a rapper estar aos poucos realmente entendo seu oficio e sua arte. Isso fica bem claro que em questão de performances, Alligator Bites Never Heal é recheado da imensa, áspera, versátil, pungente e poderosa personalidade da Doechii. E um dos melhores momentos da mixtape vem de uma canção que reflete o melhor momento da carreira da rapper na ótima Denial Is a River. Continuando a narrativa que começou na genial Yucky Blucky Fruitcake, a rapper discute com seu alter ego sobre o que vem acontecendo na sua vida depois de alcançar mais destaque mainstream. Ácida, engraçada, irônica e com um flow sensacional, a presença da rapper aqui é o que eleva a faixa devido a maneira tão única que a mesma carrega a canção, pois é da sua força criativa que a produção tira a sua base. E fica ainda mais impressionante notar o potencial dela quando logo em seguida a mesma muda totalmente de foco para uma performance mais animalesca e raivosa na pesada Catfish que revela bem a influencia da Missy Elliott na sua carreira. Esses dois momentos em sequencia é o ponto alto do trabalho que também revelam outro ponto alto da Doechii: a sua lírica.
Até mesmo quando a canção não é um acerto, as composições em Alligator Bites Never Heal são um sempre cheias de ideias bem executadas e, especialmente, quando mostram o lado mais critico e/ou pessoal da rapper se tornam ainda mais eficientes. E isso já visto logo de cara em Stanka Pooh em que a rapper reflete sobre a sua vida e futuro, especialmente as incertezas e os seus medos. Apesar de rápida, o resultado é intenso e faz a gente ter uma noção boa de quem é a rapper e sua lírica. Todavia, o melhor momento do trabalho lírico é quando a mesmo recorre para o seu lado “engraçado” cheio de referências para entregar um dos melhores versos de 2024 na ótima Nissan Altima em que a mesma dispara: “I'm the new hip-hop Madonna, I'm the trap Grace Jones/ I don't know what type of motherfuckin' crack they on/ I'm like Carrie Bradshaw with a back brace on”. O que ainda não está acertado para a Doechii é a sua sonoridade. Apesar de bem produzido, a mixtape se torna uma metralhadora de tentativas que ficam entre o quase na mosca para o “valeu, mas faltou bastante” ao explorar sonoridades que parecem ainda não refinadas o suficiente, especialmente quando vão para um lado R&B/alternativo. Não que sejam ruins, mas, sim, falta uns ajustes de níveis para dar a personalidade da rapper que vemos em canções mais hip hop/rap/trap nessas experimentações. Um desses momentos que dão certo é em GTFO com participação de Kuntfetish que tem toques de eletrônico misturado com trap que dão substancia para a canção. Mesmo não sendo o grande momento que ainda espero, Doechii está caminhando para chegar lá e deixar todo seu potencial sair.
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