6 de dezembro de 2024

Primeira Impressão

GNX
Kendrick Lamar



E quando a gente pensava que o Kendrick Lamar já tinha encerrado o seu 2024 depois de sair gloriosamente vitorioso na sua guerra com o Drake, o rapper decidiu lançar a missa de sétimo dia do seu rival com o lançamento do seu sexto álbum de surpresa. E mesmo tendo como base essa guerra, GNX demonstra claramente o motivo de Lamar ser gênio incontestável.

Com doze faixas, o álbum é o trabalho oficial mais curto da carreira do rapper, mas isso não quer dizer que seja um trabalho artístico menor. Tenho que apontar, porém, GNX fica em comparação a alguns degraus de trabalhos como, por exemplo, To Pimp a Butterfly de 2017 e, mais recentemente, Mr. Morale & the Big Steppers de 2022. E isso é devido principalmente devido ao fato da sonoridade ouvida aqui tem uma pegada mais contida do que a imensa complexidade que foram construída para os álbuns citados. Todavia, quando estou referindo a contida é relação apenas a discografia do própria Lamar, pois um álbum como o apresentado aqui nas mãos de boa parte dos artistas do gênero seria basicamente a sua “obra prima”. Tirando esse pequeno fato de lado é ainda impressionante e maravilhoso perceber que um artista que chegou no nível do de Lamar ainda está ativamente na busca de experimentar e evoluir a sua sonoridade.

Em GNX, não existe uma quebra de expectativa drástica, mas, sim, Lamar adicionando camadas, nuances, texturas e sons para a sua já consagrada sonoridade ao buscar fundir sua visão com novas percepções ao dar parte da produção para o Jack Antonoff sem perder o seu caminho original ao chamar também o seu colaborador de longa data, Sounwave. Além disso, o álbum tem pinceladas interessantes de visões de nomes como Kamasi Washington, Mustard, Sean Momberger, do próprio rapper que assina alguns faixas, entre outros nomes menos conhecidos. Serei sincero e admitir que quando vi Antonoff estava envolvido tive medo que algo poderia atrapalhar o trabalho devido ao trabalho dele ser uma montanha russa de qualidade e criatividade. Felizmente, o resultado do trabalho dá para perceber que o produtor consegue refletir para quem o mesmo produz, conseguindo se adaptar a personalidade artística do rapper e adicionar boas ideias ao longo do processo. Além disso, a experiencia e química dos outros nomes escolhidos, especialmente do Sounwave, consegue equilibrar tudo de maneira extraordinária ao entregar uma sonoridade madura, excitante, desconcertante, viciante, carismática e surpreendentemente dançante.

Essa surpresa é devido ao fato que quando notamos que o álbum é basicamente a continuação/apêndice/finalização da guerra com o Drake seria de alguma maneira esperado uma coleção de canções mais densas, mas GNX entrega momentos realmente de diversão pura com momentos de uma personalidade ideal para ser um hit comercial com a cara do rapper. É necessário apontar que não diversão com uma pegada “pop”, mas, sim, o que seria uma música dançante pela visão do Kendrick Lamar. E o grande momento disso é a viciante squabble up. Com um pouco mais de dois minutos e meio, a canção é uma explosão controlada e deliciosa que mistura hip hop, funk, eletrônico e soul em uma batida rápida, marcante, elétrica e com a marca da personalidade de Lamar. O grande acerto da canção, porém, é o uso do sample When I Hear Music da cantora Debbie Deb que dá uma áurea atemporal ao invocar uma atmosfera dos anos oitenta. Existem outros momentos em que esse lado é também explorado, deixando claro que GNX é uma obra para o Kendrick Lamar se “divertir” da sua maneira. Entretanto, isso não quer dizer que não queria falar sério, pois liricamente é facílimo de perceber que o rapper continua o mesmo: uma metralhadora imparável e destruidora.

Novamente, a maior qualidade do compositor Lamar é o fato que suas letras sempre vão ser envoltas de significação que vão bem além do padrão para o rapper atual, especialmente aqueles que são seus rivais diretos. Claro, há uma dezena de diretas/indiretas para Drake e outros, mas, Lamar vai sempre mais longe já que o rapper tem essa pegada de poder falar com profundida sobre assuntos que saem da esfera que o gênero normalmente traz. Em GNX, o rapper fala sobre várias facetas do amor como, por exemplo, o amor dele pela arte, sobre a sua filosofia de vida, sobre o poder da sua imagem para o publico, entre outros assuntos que apenas o mesmo é capaz de entrar de maneira natural, inteligente e precisamente talhado em construções líricas simplesmente fantásticas. E a composição de maior impacto vem da melhor canção do trabalho: a sublime reincarnated. Ao olhar para o passado, o rapper presta seu respeito ao ancestrais e mostra o poder das suas raízes na sua vida e no seu oficio. A maneira como o rapper transforma a sua persona como uma das encarnações do guitarrista John Lee Hooker e da cantora Billie Holiday é uma verdadeira aula lírica para qualquer artista devido a sua força criativa e artística completamente deslumbrante. E tudo isso é conduzido pela bela e devastadora presença do Kendrick Lamar que performance cada canção com uma força de tirar o folego, uma versatilidade infinita e uma personalidade genial. Apesar de brilhar por conta própria a cada segundo preciso apontar que a química dele com a SZA é outro ponto brilhante do álbum, entregando dois ótimos momentos na graciosa Luther e na dramática Gloria. Outros momentos que preciso ressaltar é o abre alas wacced out murals que já dá exatamente o nível do álbum longos nos primeiros segundos e, por fim, no novo capitulo da saga “The Heart” na adição mais soul de todas em heart pt. 6GNX é uma “obra menor” na carreira do Kendrick Lamar e só isso mostra o tamanho da genialidade do rapper.



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