5 de maio de 2016

Antes Tarde do Que Nunca - Grandes Álbuns

Nightclubbing
Grace Jones



Em 1981 foi lançado um álbum que iria ser uma das obras básicas para a música dali para frente. Um álbum que, apesar de não ter sido nenhum fenômeno de vendas, tornou-se uma obra influencia ímpar para a música pop e alternativa moderna. E, muito provavelmente, muitos dos jovens de hoje não fazem a menor ideia de quem seja a artista desse álbum. Estou falando da cantora/atriz/modelo/ícone pop Grace Jones e o seu magnífico álbum Nightclubbing.

Na época do lançamento, Grace já tinha alcançado algum sucesso como modelo e atriz durante os primeiros anos da década de setenta, mas foi apenas nos primeiros anos da década de oitenta que artista ganhou notoriedade como cantora. Quando lançou Nightclubbing, Grace já tinha no currículo quatro álbuns, mas foi com esse álbum que a carreira dela realmente consolidou. Na verdade, o resultado foi bem mais profundo que apenas consolidar: Grace Jones se tornou um ícone com todas as vertentes possíveis. Começa pela foto na capa do álbum que virou símbolo fashion para as gerações seguintes. Mais do que isso, na verdade, pois a figura negra e andrógena que a cantora sempre carregou transfigurou-se aqui em uma espécie de bandeira para mulheres em todo o mundo, especialmente para as mulheres negras. Além disso, a artista sempre uniu estética com a sua música para a criação de clipes memoráveis, sempre com a forte influencia do mundo da moda. Entretanto, apesar de toda a importância da sua figura visual para a história, Grace Jones e Nightclubbing deve e merece ser lembrado pelo seu pioneirismo musical.

Nightclubbing é uma viagem musical que se hoje em dia é, até certo ponto comum, no começo dos anos oitenta era uma ousadia radical e sem precedentes. Produzido por Chris Blackwell, responsável pela carreira de Bob Marley e a popularização do reggae, e Alex Sadkin, falecido em 1987, o álbum mistura reggae, ska, pop, R&B, art pop, funk, rock e, até mesmo, tango argentino para criar uma revolucionária e impressionante que consegue ser ao mesmo tempo reflexo da sua época e um verdadeiro olhar para o futuro. Com apenas nove faixas, sendo três regravações, e cerca de quarenta minutos, Nightclubbing se torna uma verdadeira obra de arte pop com todas as suas inusitadas nuances, as revigorantes construções instrumentais e as ideias completamente geniais. Até as canções mais "fracas" são grande obras que resultam em faixas atemporais. E apenas uma artista tão distinta em sua personalidade como Grace Jones poderia, naquela época, entregar um trabalho tão corajoso e sem precedentes como Nightclubbing.

Outro grande ponto do álbum fica por conta das escolhas líricas de Nightclubbing. Imagens distorcidas e impactantes ficam lado a lado com construções mais "tradicionais" e diretas dispostas em composições econômicas, estranhas e, na sua maneira, avassaladoras. Além de Grace, nomes como David Bowie, Iggy Pop, Sting, Barry Reynolds, Nathalie Delon, Astor Piazzolla, Bill Withers, entre outros fazem parte da seleta lista de nomes do álbum. Esse "pedigree" dado pelos nomes ajuda a aumentar ainda mais a força do álbum. Claro, Nightclubbing não poderia ser diferente ao ficar em Grace Jones o papel de pilastra mestre. 

Dotada de uma expressividade única e uma voz e uma maneira de cantar impressionante que, em vários momentos, é quase um declamar. O álbum tem quatro momentos importantes e que são os pontos altos: a batida funk/eletrônica/reggae de Pull Up to the Bumper, Demolition Man e sua dramaticidade poderosa, a regravação avassaladora de Nightclubbing do Iggy Pop (e com letra de Bowie) e, por fim, a melhor faixa do álbum e da carreira de Grace, I've Seen That Face Before (Libertango) que mistura reggae e tango em uma acachapante e inesperada fusão de generos. Nightclubbing mostra que, antes de chamar qualquer obra moderna de genial ou inovadora, sempre é preciso olhar para trás e achar quem são as influências por trás. E, com certeza, uma desses nomes será o de Grace Jones.

2 comentários:

Vinícius Carvalho disse...

Ótima resenha! Adoro reviews de álbuns antigos e quero deixar uma dica para o próximo: dusty springfield- dusty in memphis. Parabéns e continue assim!

G. RLS disse...

Sensacional!