24 de maio de 2016

Primeira Impressão

The Colour in Anything
James Blake

Qual o maior pecado para um artista: arriscar demais ou permanecer sempre na zona de conforto? Se for muito longe pode acabar com a cara quebrada ao não conseguir encontrar o caminho certo. Se permanecer no mesmo lugar, corre o risco de se tornar monótono e ultrapassado. A decisão é complicada, mas, felizmente, muitos artistas estão tomando a decisão correta como é o caso do britânico James Blake e o seu álbum, o interessante The Colour in Anything. Isso não quer dizer, porém, que o trabalho não tenha defeito, mas, na verdade, que consegue entregar o que promete.

Terceiro álbum da carreira do cantor, The Colour in Anything continua a mostrar a visão única e poderosa que o cantor tem sobre o R&B e a música eletrônica. Depois do ótimo e sombrio Overgrown, o artista parece buscar uma atmosfera mais leve e romântica. Todavia, quando se trata do cantor, não ache que essa sonoridade seja envernizada de sentimentos felizes e doces. Em sua sonoridade etérea que funde dezenas de influências do soul com outras dezenas de música eletrônica, especialmente as de origem underground, James tem o intuito de expressar um leque de emoções de uma maneira contemplativa, melancólica e com uma profundidade impressionante. Todas as inserções, nuances, ideias, texturas, batidas e qualquer som que o artista adiciona em cada faixa tem a função de expressarem esses sentimentos tão complexos e intricados. Infelizmente, nem sempre James acerta nessa jornada criada em The Colour in Anything. 

Produzindo o álbum quase inteiramente sozinho, o lendário Rick Rubin entra como co-produtor, James Blake erra ao arriscar demais em algumas faixas. Batidas que parecem que não combinam com o intuito da faixa, inclusões de efeitos sonoros ou/e vocais que tiram a força de momentos que poderiam ser avassaladores e durações exageradas criam "buracos" em The Colour in Anything. São tropeços que, infelizmente, comprometem o resultado final do trabalho, mas que de maneira alguma tiram o brilho da genialidade de James que quando acerta consegue entregar momentos magníficos e poderosos. Além disso, o cantor também aposta em faixas mais simples e "econômicas" em instrumentalização. Esse é o caso da dramática e bela Waves Know Shores sobre conhecer melhor uma pessoa. Dono de uma linguagem enxuta, precisa e metafórica, James é um compositor único e de uma escrita avassaladora. Sentimentos em seus versos são transformados em poesia que não teme em se apoiar no recursos da repetição para criar o seu ponto de apoio, deixando bem claro a sua intenção de fixar as suas crônicas no público. Talvez, essa sua característica seja um ponto questionável, pois seria muito interessante ver composições mais elaboradas em questão de tamanho. Entretanto, o poder emocional presente já é suficiente para alcançar o objetivo de transcender. Dessa vez, James tem dois parceiros que co-escreveram quatro faixas: duas com Justin Vernon, da banda Bon Iver, e duas com Frank Ocean.  Dessas parcerias surgem dois grandes momentos: My Willing Heart (Ocean) e I Need A Forest Fire (com participação de fato de Bon Iver). Mesmo com alguns erros na produção vocal, James Blake continua a mostrar o poder da sua voz. Dono de um timbre completamente distinto que mistura uma fragilidade tocante com uma atmosfera sobriamente angelical capaz de embalar os sonhos de uma criança ou assombrar os piores dos pesadelos. The Colour in Anything termina como uma longa, densa, poderosa e envolvente, apesar de alguns tropeços, mostrando o imenso talento e coragem de James Blake.

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