27 de abril de 2018

Primeira Impressão

Isolation
Kali Uchis



Um dos meus álbuns favoritos de pop de todos os tempos é o Stripped da Christina Aguilera devido, principalmente, a uma das suas principais características: a pluralidade de gêneros e estilos incorporados de uma vez só e ao mesmo tempo. O que poderia se transformar em uma verdadeira bomba pop, felizmente, funcionou muito bem para Aguilera, apesar de alguns tropeços. Eis que um pouco mais de quinze anos depois, a novata Kali Uchis faz do seu debut algo muito parecido com o Stripped ao entregae um álbum dos mais diversificado e promissores dos últimos tempos.

Para quem não conhece a jovem, Kali Uchis, nascida Karly-Marina Loaiza, é filha de colombianos e passou boa parte da sua vida de criança e adolescente entre o seu país natal e os Estados Unidos. Começando a carreira em 2012, Kali trabalhou colaborando com nomes de peso como Snoop Dogg, Diplo, Tyler The Creator, Gorillaz, entre outros, além de lançar mixtapes e EPs nos últimos anos. Com uma indicação ao Grammy (Melhor Performance de R&B pela sua participação na canção Get You do cantor Daniel Caesar), Kali lançou em começo de Abril o álbum Isolation, sendo ajudada por vários grandes e distintos nomes da música de vários gêneros e estilos diferentes. Aliando-se isso ao seu passado multicultural, Isolation é um absorvente, multifacetado e audacioso trabalho que mistura R&B, indie pop, latin pop, dream pop, hip hop, indie rock, neo soul, reggaeton e, até mesmo, a nossa bossa nova, criando uma sonoridade impressionante de muitas facetas, sons e personalidades. Kali e a produção que tem o melhor dos nomes indies de vários tipos não tem nenhum pingo de medo ou qualquer sentimento que chegue perto de algo que se pareça com receio de arriscar pesadamente em uma sonoridade que vai mudança de forma e substância a cada nova faixa. Cada nova canção é o pretexto para mostrar algo novo e que quebra qualquer expectativa provocada pela faixa anterior. Isso já acontece no começo do álbum quando o mesmo começa com a indie pop com toques de latin music da intro Body Language, passa para o latin urban de Miami com a rapper Bia, uma das melhores do álbum, e chega na indie pop/rock com toque de eletrônico Just A Stranger com a participação do artista indie R&B Stave Lacy. Essa viajem parece algo feito para o desastre, mas tudo funciona de maneira quase perfeita. Nada soa incoerente ou fora do lugar, pois o álbum é amarrado em um embrulho brilhante, de forma incrivelmente elegante e com toques de vintage que asseguram um ar atemporal para o álbum, mesmo que seja tão progressista e modernoso. É verdade que nem todas as canções encontram o seu lugar devido dentro do álbum e demora para quem ouve possa se adaptar às essas mudanças sonoras. Isso não atrapalha Kali Uchis de ser altamente viciante e luminosa em um trabalho que guarda outras surpresas. 

Unindo o seu talento com tantas influências e juntando com o talento de uma variedade de diferentes colaborados, Kali Uchis entrega canções que são descoladas e de uma áurea pop, mas que possuem profundidade e estética requintada. Temas como relacionamentos, corações quebrados, empoderamento feminino e problemas sociais são recorrentes nas composições no álbum, aprestando uma qualidade lirica que equilibra bem construções ousadas e artísticas, mas sempre com refrões certeiros, alternância de inglês com espanhol e com simplicidade louvável. Acredito que a jovem de apenas vinte anos não esteja em busca de um sucesso estrondoso comercial, mas existe algo em sua voz que parece uma mistura cantora de R&B dos anos noventa com a Amy Winehouse e algo de tempero da Lana Del Rey que parece predestinado ao estrelato. Outros momentos sensacionais do álbum ficam por conta da neo soul/funk/latin pop Tyrant com a presença da cantora Jorja Smith, a dream pop sobre dar um pé na bunda do embuste Dead To Me, In My Dreams e a sua batida oitentista de eletropop, o R&B/soul Feel Like A Fool que poderia ser algo que Winehouse faria atualmente, a incrivelmente sensacional bossa nova/hip hop After The Storm com a participação do rapper Tyler The Creator e a lenda viva do funk Bootsy Collins e a deliciosa e viciante reggaeton Nuestro Planeta com o também colombiano Reykon, sendo essas duas últimas as melhores de todo álbum. Mesmo não sendo a perfeição que poderia ser caso a cantora tivesse mais madura artisticamente, Isolation é um álbum que precisa ser descoberto em 2018, ajudando a Kali Uchis a começar de vez com o pé direito uma carreira promissora.

3 comentários:

G. RLS disse...

Atenção J, é bom revisar os textos, há alguns erros e as vzs vc "come" palavras. É impressionante o poder das suas críticas... A gente lê e se interessa rapidamente pela obra.. Parabéns!!

Jota disse...

Valeu pelo toque! Já corrigir os erros! E obrigado pelo comentário! Abraço

G. RLS disse...

Pensa em criar um site, ou fazer parte de um site, escrever em algum portal? Sério, vc é muito bom !!! Atenção POPLINE , PAPEL POP !!