31 de janeiro de 2025

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Perverts
Ethel Cain




Entender a persona artista da Ethel Cain é entender que a sua visão sobre música parte de um lugar completamente raro, distinto e totalmente sem comparação. E a artista não parece estar disposta a ficar presa as suas próprias amarras ao entregar Perverts, um projeto ambicioso, descomunal e totalmente inesperado.

Preciso primeiro apontar que chamar o trabalho de um EP é complicado, pois, com apenas nove canções, tem uma duração de mais de uma hora e meia. Então, é mais fácil intitular apenas como um projeto. E quem não escutar o projeto e pensar do motivo da duração ser tão longo não vai entender muito bem o motivo que a artista precisa de tanto tempo para desenrolar o fio narrativo e sonoro. Ao ouvir, porém, o trabalho na sua completude dá para entender perfeitamente toda a linha de raciocínio da Ethel Cain, mesmo não sendo uma jornada nada fácil e, por várias vezes, o caminho se perder na magnitude que tenta expressar. É chover no molhado que o projeto não é um trabalho para todos e arrisco a dizer que até pode afastar alguns que já conhecem a artista. Entretanto, a coragem e o apuro em criar o projeto de uma maneira tão única faz com que o trabalho já ganhe uma curabilidade enorme, pois mostra a força artista da Ethel Cain de maneira pura e cristalina.

Perverts é uma jornada contemplativa, lenta, atmosférica, sombria, complexa e experimental em que a artista pega a base da sua sonoridade indie folk, americana, post-rock e indie pop ouvida no debut Preacher's Daughter e acrescenta uma dose monstruosa de dark ambient, slowcore e drone (estilo musical minimalista, que enfatiza o uso de sons sustentados ou repetidos, notas ou clusters de tons) para experimentar e expandir os limites da sua própria sonoridade. E quando fala expandir é não apenas no tamanho, mas também nos limites sonoros, instrumentais e melódicos. Não há nenhuma faixa no projeto que não seja imundada por essa decisão ao transformar cada faixa em um pequeno planeta sonoro que vai criando uma galáxia imponente diante dos nossos olhos e ouvidos. E cada faixa se transforma em uma experiencia única que vai sendo ligada as outras por uma via sonora brilhante, mas que não necessariamente seja o mais envolvente possível e, mesmo assim, faz a gente ficar grudado do começo a fim. Existem faixas apenas instrumentais, outras que usam o mínimo de composição e vocais e outras que caminham em uma via mais tradicional. Todavia, o projeto as unes de maneira eficiente para que no final o trabalho se torne uma coleção coesa e que reflita bem toda a dinâmica e a ideia por trás da sua criação. Tenho que dizer mesmo não apreciado totalmente Perverts, o respeito e a admiração pela capacidade de criação da Ethel Cain é o que realmente faz que eu admire o projeto.

Entre os momentos de destaque do projeto preciso destacar o single Punish que “não é um trabalho fácil de ser entendido devido a sua identidade única e ser sonoramente bastante especifica, mas a canção é prato cheio e requintado para aqueles que compreendem perfeitamente a proposta da cantora e que já admiraram o seu trabalho inicial. E para quem é esse público vai poder notar facilmente a imensa qualidade instrumental da canção e, também, a entrega admirável da Ethel Cain em performance contida e tocante. Apesar de ser uma composição forte ficou faltando um aprofundamento no resultado final, pois a cantora já comprovou que é capaz de ir além”. Outro destaque é a canção que finaliza o projeto na emocional e melancólica Amber Waves, especialmente devido a performance sensacional de Ethel que deixa a sua voz devastadora e de um brilho sonoro cristalino. Totalmente instrumental, a intricada Thatorchia demonstra o quanto sensacional é o trabalho instrumental da artista de maneira incontestável. Entretanto, o grande momento de Perverts fica por conta da espetacular Vacillator que é a faixa que melhor une todas as facetas da cantora de forma incontestável. Tenho que admitir que o projeto não será um dos trabalhos que irei voltar vazes para escutar no futuro, mas preciso reconhecer que a Ethel Cain entrega um trabalho inesquecível.

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