19 de janeiro de 2025

Primeira Impressão

DeBÍ TiRAR MáS FOToS
Bad Bunny



Já faz algum tempo que percebi de fato que o Bad Bunny era de fato um artista com um conteúdo bem mais profundo que o verniz do sucesso pode deixar exposto. Entretanto, o rapper ainda não tinha entregado um trabalho que pudesse ficar a altura do seu potencial, mas isso muda com o lançamento do seu sexto álbum: o irresistível e grandioso DeBÍ TiRAR MáS FOToS.

Sem mudar drasticamente a sonoridade que o fez estourar, Bad Bunny entrega no álbum a coleção de canções mais coesas, amadurecidas, refinadas e estilizadas da sua carreira, mostrando claramente evolução nítida e elogiável. Todavia, mesmo que a produção mantenha a base reggaeton, o álbum se destaque pela adição substancial e brilhante de gêneros e ritmos que estão no cerne da influencia de vida do Bad Bunny e a sua construção como um artista latino. Salsa, merengue, plena, jíbaro, dembow, entre outros são os gêneros que predominam nas texturas, nuances e sons que são injetadas durante todo o trabalho, fundindo perfeitamente com latin pop, o eletrônico, o house e, claro, o reggaeton. E é por isso que DeBÍ TiRAR MáS FOToS é celebração da música latina na sua forma mais pura possível, pois conseguir unir passado e presente e futuro de forma impressionante, belíssimo e de uma inteligência criativa impressionante. Tenho que dizer que ainda podemos notar que o álbum ainda é preso de não alcançar um patamar mais alto devido a sua duração, pois deixa alguns pequenos vácuos sonoros durante a sua mais de uma hora de duração em dezessetes faixas. E isso é algo já presente na carreira do Bad Bunny. Todavia, mostrando novamente sua força atual, o álbum é o que melhor consegue aparar essa aresta no momento em todas as faixas estão em níveis bem parecidos sem criar nenhum solavanco sonoro considerável. Apesar desse grande avanço, DeBÍ TiRAR MáS FOToS se destaque de fato devido ao que representa para a cultura latina e maneira imponente que Bad Bunny traduz sua paixão pela suas raízes.

Apesar de ter canções com temáticas românticas, o álbum tem seus principais momentos as canções em que exaltam e celebram a cultura latina. Não apenas as flores, mas, também, as dores já que o álbum é uma crônica contra a gentrificação de Porto Rico e, por consequência, de toda a América Latina. E é aqui que o álbum ganha o seu ar de importância verdadeira ao mostrar claramente que Bad Bunny é um artista com uma consciência de quem é e de como usar a sua música para algo maior e mais importante que os números de visualizações e reproduções. E isso é feito de uma maneira realmente inspirada e devastadora quando alcança o x da questão. E um desses momentos é a surpreendente sóbria e densa mistura de bolero e lantin pop Lo Que Le Pasó a Hawaii em que o rapper faz uma forte e pungente comparação da história da colonização de Porto Rico com o Hawaii. Não apenas apontado diretamente o dedo que o rapper segue esse caminho, mas, também, explorando seus ancestrais e a sua importância para a sua vida como é o caso de La Mudanza que é uma homenagem a seus pais e a como o mesmo carrega a sua bagagem com orgulho. De maneira mais melancólica, o rapper faz uma tocante crônica sobre apreciar o presente e tudo nos cercam no hit DTMF. E o álbum já começa a mostrando a sua essência na espetacular Nuevayol que mistura dembow com latin pop de maneira explosiva e viciante. É preciso apontar que vocalmente Bad Bunny continua o mesmo e, por isso, não é exatamente para todos, mas é fácil notar que o rapper teve um amadurecimento sensível e perceptível ao mostrar ser capaz de segurar todas as mudanças rítmicas do álbum sem perder a sua personalidade e a potencia da sua presença. É preciso apontar alguns outros momentos importantes do álbum que o ajudam a fazer desse o projeto da carreira do Bad Bunny até agora: a fusão dinâmica e ousada de salsa e eletrônico em Baile Inolvidable, a irresistível batida tradicional e festiva de Café con Ron com a banda Los Pleneros de la Cresta, a toque crônica sobre abandono em Turista, a sensualidade cativante de Weltita com a presença da cantora Chuwi, a dançante Eoo, a curiosa e delicada Bokete (não é sobre o que você está pensando) e, por fim, o single El Clúb que tem como grande trunfo “a ousadia estética ao ser a visão peculiar do artista do que seria um “club banger” com a sua personalidade impressa. Uma mistura madura e criativa de deep house com latin pop, afrobeats e hip hop, o single tem uma estrutura estranha, mas que funciona perfeitamente devido a construção climática que a produção estabelece. E a presença única do Bad Bunny funciona perfeitamente, pois o mesmo adiciona uma carga graciosa de personalidade que arremata o resultado final de maneira surpreendentemente excitante”. DeBÍ TiRAR MáS FOToS é um fato raro atualmente ao ser um arrasa quarteirão de sucesso que, ao mesmo tempo, é um marco cultural e a consagração artística do Bad Bunny. E isso, queridos leitores, é para poucos artistas.

Nenhum comentário: