3 de janeiro de 2025

Os Melhores Álbuns de 2024 - Parte II

 


Parte I


20. Dauntless Manifesto
cupcakKe


"Tenho que advertir que o álbum assim como a rapper não é para todos, principalmente devido a sua recorrente temática de falar sobre explicitamente sobre sexo. E isso não é diferente aqui devido as letras que realmente não deixam nada para imaginação. Em alguns momentos fiquei meio sem graça, mas, sinceramente, a maneira honesta e sem papas na língua da rapper realmente me faz admirar a sua língua de chicote e afiada que não tem medo ou pudor de tocar no assunto da sua maneira. Além disso, a rapper tem uma estética tão inspirada, inteligente, criativa e divertida, que apesar de ter temas pesados, as suas composições nunca se tornam se tornam fardos para quem escuta. Todavia, o brilho do álbum é quando a mesma sai da constante temática sobre sexo e abre espaço para outros assuntos como é caso da sensacional Rock Paper Scissors em que a mesma reflete sobre experiencias pessoais para fazer uma sentimental e madura crônica sobre a importância de achar a alegria em viver. É um desvio inesperado para a cupcake, mas extremamente bem vindo. Entretanto, o grande triunfo de Dauntless Manifesto é a própria rapper que estado de graça em suas performances."

19. HIT ME HARD AND SOFT
Billie Eilish


"Tenho que admitir que por todo o buzz que vendo sedo alardeado com o lançamento do álbum fiquei levemente decepcionado depois de ouvi-lo, pois pensei que estaria diante de uma obra prima da Billie. E isso não é caso com Hit Me Hard and Soft. E isso não é nenhum problema já que ainda estou diante de um trabalho realmente inspirado e que mostra a evolução monstruosa da cantora e, claro, o seu irmão/produtor Finneas. E a principal qualidade que é mostrada devido a essa evolução é entender que menos é mais. Algo que sempre vem falando aqui no blog é o fato da quantidade de faixas que vem sendo uma tendência nos últimos tempo que se não feito corretamente se tornar fácil de desandar o resultado final, criando a sensação de se tornar arrastado e/ou entediante. Com apenas dez faixas, o álbum encontra o equilíbrio perfeito que cria uma fluidez ideal que faz quem escuta nunca perder interesse, deixando aquele gosto de quero sem também parecer um trabalho incompleto. Obviamente, Hit Me Hard and Soft não acerta devido apenas ter dez faixas, mas, sim, devido a produção entender como começar e qual momento terminar sem deixar pontas soltas na construção sonora do álbum.

É interessante notar que o álbum não apresenta nada exatamente de novo na sonoridade da Billie. O álbum ainda é uma mistura bem azeitada de alt pop, indie pop, electropop e pop com a marca distinta da produção de Finneas. Existe, sim, um verniz experimental em vários momentos que vem para adicionar substancia para o resultado final sem precisar alterar drasticamente os rumos do que já vem dado certo. Acredito que o que ouvimos aqui é a sonoridade inicial da cantora em seu estado mais maduro possível até o momento em que tudo está perfeitamente no seu lugar. Não há “gordura” sobrando em Hit Me Hard and Soft. Não há grandes abismos de qualidade entre uma faixa e outra, criando ainda mais essa sensação de coesão e fluidez. Não há momentos menores no álbum ou/e faixas fillers que poderiam ser descartadas. O amadurecimento do Finneas e, claro, da Billie é a força motriz para o álbum. E isso é sim plenamente visto nas composições do álbum."

18. Girl With No Face
Allie X


"Sem nenhum tipo de amarra visível que a prenda a conceitos fixos sobre pop, mas sem perder o rumo do que faz o gênero ser tão especial, Allie X entrega um refinadíssimo trabalho de synthpop, glam rock, new wave e electropop que consegue encontrar o lugar ideal entre a nostalgia e a originalidade. E isso é alcançado devido a uma produção corajosa da própria cantora que consegue referenciar sem copiar, reinventar sem desrespeitar, divertir sem perder o senso artístico e ser inteligente sem ser pretencioso. E, queridos leitores, esse é um trabalho gigantesco para se alcançar, pois qualquer tropeço mais forte poderia ser um tiro no pé. Isso não acontece devido a determinação que Allie X em criar uma obra coesa, limpa, focada e de um fator viciante altíssimo."

17. What Now
Brittany Howard


"Bem longe do fato do álbum soar incompleto, What Now vai envolvendo a gente de uma maneira que quando termina a gente não viu o tempo passar e deseja por mais. E isso é vindo especialmente devido a presença espetacular e genial da Brittany Howard. Dona de uma voz não apenas poderosa, mas marcante, encorpada, tempestuoso e grandiosa, a cantora domina com mãos de ferro e, ao mais tempo, uma graça transcendental toda o álbum, preenchendo todas as possíveis lacunas com o seu timbre áspero e suas nuances delicadas. É impressionante a capacidade dela de transitar entre todos as nuances que o álbum percorre sem perder a linha performática. Na verdade, a maneira como ela entoa cada canção é o que realmente faz What Now ganhar vida já que o álbum todo parece girar em torna na sua figura ímpar. E é quando a artista entrega uma das suas melhores performance no álbum é tem uma das melhores faixas: a sensacional Red Flags. Em uma sequência de mudanças vocais de tirar o folego, Brittany entrega uma performance deslumbrante que vai além da sua capacidade de alcançar altas notas e, sim, se baseia muito na maneira como ela adiciona doses cavalares de emoção para essa indie rock/psicodélica."

16. A Dream Is All We Know
The Lemon Twigs


"Não precisa de muito tempo para notar qual é exatamente a geração/sonoridade que a dupla se baseia pesadamente aqui: o rock dos anos sessenta e, claro, os Beatles (mas não exclusivamente). E isso é algo tão “na cara” que quem coproduz uma das faixas é nada mais, nada menos que o filho de John Lennon, Sean Ono Lennon. E essa decisão poderia ser o verdadeiro tiro no pé, pois poderia facilmente cair em algum lugar entre o cheio de naftalina, a nostalgia barata e o pretenciosismo intelectual. Ou pior: os três ao mesmo tempo. Todavia, A Dream Is All We Know passa bem longe disso ao ser um trabalho emocionante, simpático, tocante e inteligente que, como dito anteriormente, tem nessa sinceridade ingênua a sua maior carta na manga. E quando falo em ingenuidade não é ser sobre malicioso ou não, mas, sim, que a dupla ao lado de uma produção inspirada nunca parecer emoldurar a estética/gênero escolhido para mostrar que são “intelingentões” que conseguem recriar uma sonoridade tão especifica. O que o álbum é uma sincera forma de homenagear e exaltar esse período musical e seus artistas que inspiraram a dupla de maneira tão definitiva e marcante. E isso é conquistado com louvor.

Sem esse peso que poderia facilmente ofuscar todo o trabalho, A Dream Is All We Know é um trabalho que acerta ao não querer também reinventar a roda, mas, sim, entregar com classe e precisão toda uma atmosfera que é necessário para alcançar a ideia por trás do álbum. E isso é importante, pois o trabalho poderia até ser sincero, porém, sem o cuidado estético preciso tudo poderia resultar também em um grande desastre. Todavia, essa possibilidade é posta completamente fora de escopo de possibilidade devido ao trabalho espetacular de instrumentalização que capta perfeita a essência do gênero. Esse é o caso da deliciosa Church Bells que usa uma técnica chamada “mixed meter” que é incomum nas canções pop, mas que ajudam a dar personalidade para a canção de maneira única. E também é necessário apontar o trabalho excepcional vocal de ambos integrantes do duo, pois é também deles que o álbum ganha a sua forma de maneira tão definitiva e refinada. Só que é preciso apontar que é vindo de Michael os melhores momentos vocais do álbum como na balada In The Eyes Of The Girl (com coprodução de Sean Ono) que facilmente poderia ser uma canção gravada pelos Beach Boys. Contudo, o grande momento do álbum é logo de cara com a sensacional My Golden Years ao ser “cativante, delicada e nostálgica balada rock/power pop com forte inspiração dos anos sessenta, a canção tem aquela vibe perfeita para tocar na frente de um seriado que provavelmente trata sobre amizade, amores, decepções, tristezas e conquistas de um grupo de amigos em alguma cidade pequena dos Estados Unidos”. Outros momentos que merecem ser citados são a delicinha de How Can I Love Her More?, a divertida They Don't Know How To Fall In Place e Rock On (Over and Over) que encerra o álbum mostrando o começo da influência dos anos setenta no rock. A Dream Is All We Know não é para qualquer público, mas o The Lemon Twigs sabe perfeitamente entregar uma preciosidade para quem é o publico da sua música e, claro, das suas preciosas influencias."

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