Parte I
Parte II
Jamie xx
"Ouvir In Waves é comprovar todo o hype que os singles estavam prometendo, mas, ao mesmo tempo, ficar com o gostinho de ter faltado aquele passo final para elevar toda as qualidades para um outro nível espetacular que poderia facilmente ter atingido. É curioso pensar em o que seria necessário para Jamie xx ter entrega algo ainda melhor, pois o trabalho já é sensacional. Entretanto, pensando mais profundamente acredito que o que faltou é ter um grande momento de simplesmente brilhantismo puro e decisivo que fosse a pedra central do trabalho. Isso, infelizmente, não existe, pois o álbum tem basicamente uma linha linear de qualidade que nunca cai e também nunca vai muito além. E isso é o principal defeito do trabalho que já mostra que apesar de ser um tropeço já mostra claramente o quanto In Waves é ótimo.
Resumidamente, o álbum apresenta uma sonoridade que traz a tona alguns dos subgêneros da musica eletrônica de maneira reluzente e eficiente, indo do EDM ao house com toques de pop, R&B e soul em uma coleção coesa e vibrante de canções do começo ao fim. A produção de Jamie xx é tão competente e certeira no que o mesmo tem em mente que é possível compreender todo a sua sonoridade de maneira clara sem ter escutado nenhuma vez alguma das suas canções. A sua limpeza sonora é o que faz ser o componente de carisma e personalidade centrais que faz de In Waves um trabalho tão envolvente e excitante. Ao se mostrar acessível sem fazer perder a sua personalidade, o produtor é capaz de introduzir referencias mais “obscuras” que o processo de assimilar fica mais fácil para os novatos nesse tipo de canção."
Porter Robinson
"Com os lançamentos dos singles que antecederam o álbum começou a surgir em mim aquele famosa expectativa para escutar o trabalho como o todo, pois a qualidade das canções é bem alta e com uma proposta/estética bem peculiar e interessante. Entretanto, passando pelas canções que viraram single, SMILE! :D é bem diferente do que estava esperando, especialmente devido a sonoridade. A diferença é que os singles seguem uma linha mais electropop/EDM/house contra uma linha mais indie pop/rock com influencia eletrônica para as outras canções do álbum. Tenho que admitir que essa quebra de expectativa é algo que me pegou desprevenido, criando certo ruido na minha percepção do álbum. Todavia, Robinson consegue me manter na sua onda sonora no momento que mantem a qualidade do álbum e, principalmente, consegue dar uma razão para essa discrepância.
SMILE! :D é no seu coração um trabalho pessoal e intimo para o artista, pois explora sentimentos bastante complexos que normalmente não estariam associados com o seu estilo musical. E a mudança se explica já que reflete as crônicas e reflexões que Porter realiza ao explorar suas emoções que estão especialmente associadas com a sua relação com a fama e a indústria da música. Então, essa transição entre gêneros parece mais fluida ao olhar por esse lado já que esse tipo de discussão parece mais plausível em uma sonoridade mais indie rock, mas isso não impede que crie certo ruido para quem esperava algo estritamente como os primeiros singles. Apesar de conseguir ultrapassar essa quebra de expectativa preciso admitir que isso afetou um pouco a minha percepção em relação ao álbum, criando quase um pequeno tropeço na minha relação com o trabalho. Felizmente, isso é colocado de lado ao conseguir embarcar com essa visão de Porter ao entender o seu ponto de vista e, principalmente, a qualidade de produção em qualquer momento do álbum."
Beth Gibbons
"Apesar de ser o seu terceiro álbum longe da sua banda, o álbum marca a primeira vez que a cantora não tem uma parceria na construção do trabalho. É apenas Beth Gibbons e ponto. Isso é realmente um fato louvável, pois artistas do seu peso e anos de experiencia quase nunca se aventuram tão fortemente fora da sua zona de conforto. E é isso que Lives Outgrown é: uma aventura de um grande nome em sua plenitude. E o grande trunfo do álbum é a sua impressionante e genial produção que capitaneado pela própria cantora ao lado de James Ford. E eu preciso dar todas as flores para o Ford devido a sua impressionante versatilidade, pois o produtor é capaz de entregar um álbum como esse e também trabalhar em obras completamente opostas para nomes como, por exemplo, Jessie Ware, Kylie Minogue, Haim, entre outros. É quase impossível imaginar sem a gente não soubesse que a mesma pessoa que está por trás desse álbum é a mesma por trás de Spotlight, por exemplo. A única coisa que liga é imensa qualidade entre os trabalhos.
Sóbrio, melancólico e poderoso, Lives Outgrown é tecido como um vigoroso encontro de champer pop, art rock e indie folk que nunca se torna pesado demais devido a tino de Ford, mas passa longe de ser frívolo. É um trabalho maduro que representa a força artística da cantora na mesma medida que a enverniza de uma sensação de vigor impressionante. E o grande trunfo aqui é a sensação que estamos ouvindo uma “tempestade silenciosa”, pois todo álbum tem essa vibe de se manter sonoramente contido e esconde toda a sua força emocional por trás. E a melhor canção do álbum mostra perfeitamente essa qualidade: Floating on a Moment. “a canção é uma verdadeira aula de como fazer uma slow burn que vai aos poucos grudando na nossa mente para não soltar mais com a sua atmosfera sufocante e de uma força constante e devastadora. A parte final em que surge um coral de vozes infantis é o ponto algo ao arrematar a canção de maneira inesperada. A maneira contida como quase fosse uma canção de ninar sombria que Gibbons é simplesmente brilhante, pois faz com que Floating On A Moment ganhe ainda mais nuances ao contar com a maturidade criativa de uma artista desse calibre”. Nem tudo, porém, funciona perfeitamente no álbum, pois as composições são trabalhos que não conectam facilmente com o público."
Laura Marling
"Oitavo álbum da carreira da cantora, o trabalho foi composto e gravado após o nascimento da sua primeira filha no ano passado e é uma reflexão sobre maternidade, envelhecer e a herança que a gente traz dos nossos pais. Obviamente, muitas pessoas podem se relacionar com alguns temas ou todos os temas que são falados, mas não é necessariamente o caso. As observações e reflexões que a cantora faz aqui, sendo que a maioria das faixas foram compostas apenas por ela, encontram um lugar tão pessoal e próprio da sua vivencia que na teoria ficaria difícil encontrar pessoas que tenham vivido o mesmo e/ou tirado as mesmas conclusões. Todavia, a grande e impressionante qualidade da lírica de Marling é fazer a gente não apenas compreender perfeitamente suas crônicas, mas, sim, conseguir encontrar pontos de entendimento/emparia/semelhanças até mesmo aqueles que não se veem totalmente nos temas em Patterns in Repeat. E acredito que o principal motivo para isso é a maneira como a artista escreve suas composições.
Ao escrever a resenha do seu álbum anterior, o também ótimo Song for Our Daughter, apontei que a cantora é “dona de uma lírica poética, direta e simples, (..) tendo aquela qualidade de contadora de história que está em falta atualmente”. E isso continua ainda mais forte e verdadeiro aqui, pois o resultado final do atual álbum é mais poderoso e refinado que o anterior ao fazer a gente ficar impactado desde o primeiro momento na graciosa e humana Child of Mine sobre o sentimento de uma mãe/pai de ter “criado” uma vida. Mesmo quem não passa/passou por essa experiencia consegue se emocionar com a delicadeza sincera das palavras de Laura ao relatar a sua experiencia e para aqueles que tem essa vivencia se sentiram vistos e entendidos."
Milton Nascimento & Esperanza Spalding
"Com dezesseis faixas, o trabalho é uma coleção de canções compostas e gravadas por Milton, canções regravações de grandes artistas e alguns novos trabalhos escritos por Spalding. Apesar de não exatamente serem escolhas que geram uma fluidez perfeita, o que foi selecionado aqui mostra um pouco do brilhantismo de Milton e o respeito de Spalding, pois reflete bem o que seria essa parceria entre um veterano com tamanha bagagem e força e uma “novata” talentosa e com uma apuração artística tão refinada. Produzido pela cantora, Milton + esperanza é um trabalho essencialmente de jazz contemporâneo que é permeado por R&B, soul e, claro, MPB. E o resultado é esplendoroso devido a incrível e respeitosa maneira como a artista trabalha com cada construção instrumental. Refinada, rica, elegante, atemporal e emocionante, a construção dos arranjos do álbum passa por todos esses adjetivos e mais alguns, encontrando seus lugares de maneira a respeitar e enaltecer as versões originais e estabelecer lindamente as canções originais dentro desse contexto. E o mais incrível é que é possível perceber os estilos dos dois artistas juntos devido ao cuidado carinhoso que há em cada momento, mas também dá para perceber as duas personalidades de maneira individuais. E isso fica mais claro e louvável quando é adicionado mais dois elementos a mistura na regravação de Earth Song do Michael Jackson com a presença da cantora Dianne Reeves. Na sua versão original temos uma power balada pop/soul que aqui é transformada em uma jazz/blues que consegue manter o épico da canção original, mas adicionando carga pesada de todas as personalidades envolvidas em um instrumental extraordinário. E esse é apenas um dos grandes momentos de Milton + esperanza.
Regravação do original de 1967 incluído no primeiro álbum do cantor (Travessia), Outubro ganha uma versão refinadíssima e emocional que apesar de todo o cuidado instrumental, o destaque é para como a lírica de Milton ao lado do seu eterno parceiro Fernando Brant consegue resistir quase sessenta anos para se manter emocionante e de uma beleza estética única. E isso é valorizado pela linda performance de Esperanza que entoa em um português claro e sabendo muito bem expor os sentimentos em cada palavra. É necessário dizer que a voz de Milton está completamente longe de ser daquele que é o maior cantor da música brasileira, mostrando-se frágil e “pequena” ao longo da canção, claro, do resto do álbum. Todavia, a sua presença transcende esses problemas da idade devido a sua força divina e toda o seu imortal carisma. Outro grande momento que mostra o quanto genial é Milton e a sua imensa química com a Esperanza é na regravação da poderosa Cais, retirada do lendário álbum Clube da Esquina de 1972. Completam a lista de destaque do álbum a original e instrumental Wings for the Thought Bird, Morro Velho (saído do mesmo álbum de Outubro), Saci com a presença de Guinga, Um vento passou em que Milton dividi os vocais com o também lendário Paul Simon e, por fim, When You Dream que fecha o álbum. Milton + esperanza é um trabalho de uma reverencia tocante que mostra o quanto a nossa música é algo para sentirmos orgulhosos. E mais importante é saber que podemos ter orgulho de uma artista como Milton Nascimento."
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