20 de janeiro de 2025

Os Melhores Álbuns de 2024 - Parte IV

 




Parte I

10. Connla's Well
Maruja


"Apesar de apenas ser um EP que claramente é um aperitivo para o primeiro álbum da banda, Connla's Well é um trabalho que deixa uma sensação de completude ao mostrar perfeitamente toda a personalidade da banda, a sua magnifica e madura instrumentalização e sua lírica poderosa e marcante. E é necessário apontar que das cinco faixas incluída no EP há duas que são apenas instrumentais. Mesmo assim, a banda consegue impor toda a sua força artística, encontrando o seu pico na estupenda The Invisible Man. “Uma torrente impiedosa, épica, magistral e grandiosa de uma mistura de post-punk, art rock, jazz e rock progressivo que pode até ser familiar, mas é feito de uma tão espetacular e com uma personalidade distinta que a torna um trabalho único e refrescante. Existe um cuidado para que o impressionante instrumental não se perca em uma cacofonia sem sentido, mas que também não tenha restrições ou amarras para onde ir ou, principalmente, como chegar nesse lugar sonoro impressionante e deslumbrante. The Invisible Man, porém, ganha contornos de genialidade pura devido a performance do vocalista da banda Harry Wilkinson que segue o caminho de entoar a composição como em declamação de poema, adicionando nuances belas e uma impressionante construção climática que termina em uma explosão”. Em Zeitgeist, a banda mostra uma faceta diferente ao infundir a faixa com uma urgência desconcertante em um instrumental ácido e de tirar o folego. Existe aqui um toque eletrônico misturado com big band que dá para a canção uma distinção única, fazendo a gente perceber toda a versatilidade da sonoridade do Maruja. A marca distinta do vocalista Harry Wilkinson é fio condutor da ótima One Hand Behind the Devil em toda a sua mudança rítmica que soa tão fluida e assertiva. E o EP termina com outra faceta inusitada e extremamente bem vida da banda na instrumental Resisting Resistance ao ser uma canção que continua mostrar o quanto gigantesco é a sonoridade da banda, mas feito de uma maneira mais contemplativa e reflexiva. E a “pior” canção do EP, a intro instrumental que dá nome ao trabalho, Connla's Well é um trabalho de tirar o folego e que introduz muito bem toda a personalidade da banda. Se esse EP é apenas o aperitivo para o debut álbum do Maruja já podemos estar cientes que deve vim um banquete épico no futuro."

9. ORQUÍDEAS
Kali Uchis



"Segundo álbum em espanhol (apesar de ter momentos em inglês), Orquídeas não muda nada na sonoridade que defini na resenha de Red Moon In Venus como sendo uma “exploração/reconstrução no que seja o R&B, Kali entrega um ambicioso e extremamente bem conduzida mistura de neo-soul, indie R&B, psychedelic/pop soul que não é a reinvenção da roda, mas tem uma originalidade tão clara que se torna facilmente uma marca indiscutível da sonoridade da cantora”. Aqui, porém, a construção do álbum é adicionada de uma dose pesada e bem vida de lantin pop/ reggaeton que arremata o trabalho com esse sabor latino que tão bem casa com a sonoridade da cantora como mostrou várias vezes. Sem nada de novo em relação ao que já ouvimos, mas, sim, Orquídeas é o refinamento ainda mais apurado da sonoridade da cantora ao encontrar o melhor ponto de ebulição para toda a luxuosa, sensual, classuda, elegante, excitante e suntuosa construção da produção que, apesar de várias mãos diferentes, encontra uma coesão perfeita. Essa qualidade não apenas vem do fato de criar um álbum que tem essa sensação da gente conseguir ouvir do começo ao fim de forma fluida e que parece que o tempo passou ouvindo, mas também do fato da ordem das canções ter uma transição de gêneros/ritmos/batidas. E isso é basicamente o que dá a liga para Orquídeas, pois aqui existe uma viagem sonora tão grande que poderia ter resultado em uma grande bagunça. O resultado, porém, é um deleite para os ouvidos."

8. CHROMAKOPIA
Tyler, The Creator


"Novamente, o rapper busca fundir a sua sonoridade com uma dezena de outros gêneros e subgêneros ao ir do neo soul até o jazz, passando na psicodelia até o R&B alternativo. É impressionante notar que, apesar de terem outros rappers seguindo caminho parecido, Tyler, The Creator consegue encontrar o seu lugar único devido a sua indiscutivelmente genial visão, pois cada momento de CHROMAKOPIA é adicionado da sua imensa e rara personalidade. É áspero, mas é ao mesmo tempo refinada. É ousado, mas mostra a segurança de alguém que sabe muito bem o que está fazendo. É experimental, mas tem uma linha de pensamento claro e direto. Não tem nada de comercial, mas encontra facilmente a sua faceta sobre o que é comercial para o rapper. É maduro, mas apresenta um frescor impressionante de uma artista com gana de um iniciante. E isso apenas faz aumentar a sensação de grandiosidade de CHROMAKOPIA.

Construído com o conceito de ter a mãe do rapper conduzindo as suas crônicas sobre experiencias passadas, o álbum apresenta uma coesão monstruosa em liga de maneira perfeita toda a costura do álbum, criando uma experiencia sublime e absorvente que faz a gente ficar grudado nos fones sem perder a atenção em cada nova faixa devido a sua progressão constante e cativante. É isso é ainda mais impressionante quando a gente percebe que, mesmo conversando entre si diretamente, todas as faixas aqui apresentam claramente diferenças sonoras grandes entre si. Entretanto, o fio condutor que é colocado durante o álbum (as gravações da voz de Tyler) e as suaves transições sonoras fazem esse trabalho pesado, mas de maneira natural e quase imperceptível se não tiver sido analisando com mais cuidado. O ápice dessa qualidade de CHROMAKOPIA fica longo da sequencia das primeiras cinco canções do álbum que é sem nenhum duvida a melhor primeira metade de um álbum em 2024."

7. CAJU
Liniker


"Fugindo completamente da tendencia de entregar um trabalho raso e rasteiro, Caju é um complexo, épico, intricado, elegante, maduro, inspirado e deslumbrante de uma mistura edificante e brilhante de MPB, soul, R&B e pop que faz a gente realmente ficar de queixo caído ao notar o tamanho da força artística e emocional que existe na produção. Não é uma surpresa nenhuma notar que esse produto final veio da Liniker, pois seus antecedentes mostram bem claro a sua capacidade e, principalmente, seu imenso senso estético e criativo. Entretanto, Caju parece elevar em um novo patamar toda a sua genialidade devido ao refinamento em estado de graça da produção a sua volta e, claro, da sua própria visão. E nada mais certo que essa elevação seja não apenas refletida na produção do álbum, mas como também no instrumental de maior valor para a cantora: a sua voz.

Em Caju, Liniker em está em estado de graça vocalmente. Na verdade, mesmo com toda a qualidade da produção, o álbum não seria de longe a mesma coisa se não tivesse a dona que tem em tamanho brilhantismo vocal. Viva, melancólica, sensual, delicada, emotiva, graciosa, poderosa e acachapante. Conseguir achar todos os adjetivos para qualificar todas as performances da Liniker é um pouco complicado, pois a cantora consegue abranger todas e bem mais devido todas as magistrais interpretações que a mesma entrega em cada nova canção. Completamente dona de si e do com uma sabedoria incrível sobre com usa o seu lindíssimo timbre e sua potencial rara, Liniker encontra os céus no melhor momento do álbum: a genial Veludo Marrom.

Uma impecável e apoteótica power balada soul/MPB com toques de gospel, a canção apresenta a cantora em uma atuação simplesmente inesquecível que começa delica e suave para ir crescendo através de camadas de significação para finalmente terminar de maneira apoteótica e poética em um dos momentos mais belos e emocionantes de todo álbum, ajudando a canção a se tornar uma das melhores canções nacionais dos últimos tempos. A produção realiza um trabalho magistral ao construir toda a atmosfera da canção, mas preciso apontar o quanto importante é o impressionante trabalho instrumental que teve parceria com a Orquestra Jazz Sinfônica. É desse cuidado meticuloso da produção que Caju tira toda a sua base para poder desfilar com classe toda a sua impressionante sonoridade que, mesmo sem atingir o altíssimo nível de Veludo Marrom, consegue planar altíssimo durante todo o trabalho."

6. Mahashmashana
Father John Misty



"Ao contrario do álbum anterior que era uma “jukebox que tem a função de explicar sobre as principais eras da música, começando dos anos vinte/trinta até o anos oitenta/noventa”, Mahashmashana é conduzido de maneira mais linear em questão de mudança sonora, mas sendo pincelado por dezenas de gêneros e estilos que apenas acrescente profundidade na grandiosidade e refinamento que o álbum constrói. E é preciso salientar o magnifico trabalho instrumental do álbum, pois cada canções possui um atmosfera tão rica devido ao detalhamento precioso da utilização de cada instrumento que constituem uma impressionante rede sonora que vai sendo desenrolada ao longo do álbum. Entretanto, o álbum já abre de maneira genial e mostrando toda a sua força criativa e emocional ao ter como abre-alas a faixa que dá nome ao trabalho: a suntuosa Mahashmashana. Com mais de nove minutos de duração, a canção é uma verdadeira jornada acachapante que nos prende desde o primeiro segundo até o seu final simplesmente apoteótico. Em nenhum momento, porém, a gente fica entendido, perdido ou desinteressado devido ao tamanho da canção, pois a produção trabalha para que a canção tenha essa força que nos cerca e nos carregada por toda a sua extensão, fazendo a gente sentir todas as pequenas nuances da canção e sempre perceber o seu constante crescimento rítmico e de atmosfera. E quando a gente percebe já se foram nove minutos de puro brilhantismo que deixa a gente desejando por mais. E felizmente, o álbum continua em uma mesma toada até o fechar das cortinas.

Tecnicamente, Mahashmashana é um trabalho de art rock/art pop/indie rock que trabalha mais dentro dessas linhas como exposto anteriormente. Todavia, as generosas pinceladas que é da pela produção de gêneros diversos como, por exemplo, rock progressivo, jazz, americana, chamber pop, big band, disco, funk, entre outros são aquele ponto que faz a banda se diferenciar e ganhar uma personalidade artística tão peculiar, amadurecida e distintamente única. Um ótimo exemplo dessa característica é a mudança entre a canção já citada para a canção que dá continuidade no álbum: She Cleans Up. Saindo de uma epopeica art rock com base orquestral, o álbum manda uma dançante e áspera batida que fundi art rock, funk rock, garage rock e glam rock de maneira tão vibrante, divertida e descolada que fica difícil realmente não se empolgar. E o fato dessa mudança não soar coesa é outro fato incrível para a produção, pois dá esse aparecia de unidade massifica para todo o álbum sem fazer o trabalho perder as personalidades individuais de cada canção. E cada canção é adornada brilhantemente pela presença gigantesca e atemporal do vocalista Josh Tillman que impregna cada faixa com a sua voz profunda, atemporal e aveludada. E o grande momento de Mahashmashana que mostra todo o brilhantismo da força performática do vocalista é na emblemática I Guess Time Just Makes Fools of Us All que também fez parte do álbum de grandes sucessos da banda. “Uma mistura refinadíssima de americana, country rock e soul, a canção apresenta uma construção rítmica impressionante em que sem precisar de grandes mudanças apresenta uma verdadeira montanha-russa emocional e criativa. Apesar de longa, a canção não se torna em nenhum momento cansativa, mas, pelo contrário, a gente fica desejando que a mesma tenha mais tempos. Lindamente instrumentalizada com dois breaks que adicionam mais substancia para o resultado final, a música também conta com uma impressionante composição que não tem refrão, dependendo da imensa capacidade narrativa de Father John Misty para segurar nossas atenções do começo ao fim”. Não dá para apontar outros momentos específicos de destaque do álbum, pois todo o resto do trabalho são momentos de destaque, sendo que as canções citadas são o “creme de lá creme” do álbum. E apenas isso mostra o quanto é incrível e preciso o trabalho que o Father John Misty entrega em Mahashmashana."

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