Lily Allen
Quinto álbum da carreira de Lily Allen, West End Girl é, possivelmente, um dos trabalhos mais brutais e reais pós-separação dos últimos tempos. Todavia, o que poderia ser um trabalho brilhante perde força devido a uma produção que realmente não sabe o que fazer com o material em mãos.
Conhecida desde o começo de sua carreira por ter sempre uma lírica ácida, mordaz e irônica, a inglesa adiciona uma dose cavalar de um coração quebrado pelo fim tempestuoso de seu casamento com o ator David Harbour. E não são composições falando, por exemplo, “você era o amor da minha vida” ou “o quanto você me fez sofrer”. Lily faz do álbum uma verdadeira sessão de terapia ao explanar literalmente tudo sobre o que viveu no casamento e, claro, na separação, expondo tudo o que poderia expor sobre as infidelidades, o casamento aberto, as brigas, os gaslightings, entre outros. Tudo e mais um pouco são colocados com detalhes explícitos e minuciosos nas quatorze faixas que compõem o álbum. E, queridos leitores, é como se fosse uma metralhadora sem trava disparando tiros totalmente diretos e sem meias palavras.
Essa é a grande qualidade do álbum, pois a cantora, ao lado de apenas duas pessoas (Hayley Gene Penner e Violet Skies), consegue fazer do álbum esse desfile monotemático sem fazer a gente se irritar ou uma grande festa melancólica sobre “a pobre” Lily. Isso se deve à maneira como são escritas as composições, no instante em que percebemos não apenas um apuro estético, mas também uma fluidez mental em como o álbum é construído.
West End Girl é construído como se fosse a conversa, ou uma coleção de conversas, que a cantora tem com uma amiga ou com uma terapeuta de maneira sincera, aberta e sem medo de ser julgada. E a gente assume esse posto de maneira natural devido ao quão reais são as composições no álbum. A lírica aqui não busca sentimentalismo e, sim, realismo verdadeiro. Lily é vítima, mas não se coloca como a pessoa mais sofrida do mundo. É a sua visão, mas também não é a verdade absoluta. É real, é honesto, é desconcertante, é divertido, é irônico, é brutal, é terapêutico. O melhor momento lírico está na melhor canção do álbum, Madeline, em que a cantora se dirige diretamente à “outra” para explicar a situação e tentar entender o que aconteceu ou não. O álbum poderia, então, se tornar genial quando a produção pegasse tudo isso e desse uma base à altura sonoramente. Mas isso, infelizmente, não acontece.
O álbum não desanda exatamente devido à sua sonoridade, pois, felizmente, há certas boas qualidades que conseguem mantê-lo em pé. O problema é que o resultado final é disjuntado sonoramente, em que existem várias ideias soltas que nunca encontram o caminho correto ou que encontram caminhos que deixam o trabalho preso a uma sonoridade rasteira, com influências deslocadas que não agregam em nada. A grande qualidade dessa mistura de alt-pop com bedroom pop, indie pop, eletrônico e electropop é saber misturar até bem a faceta da Lily no começo da carreira com as facetas que a mesma apresentou ao longo da carreira, mesmo sem saber como elevar essa fusão.
Um dos melhores momentos sonoros do álbum fica logo no começo, com a canção que dá nome ao álbum: West End Girl é uma inspirada mistura de alt-pop com jazz pop, soul e bossa nova que consegue ter uma estrutura classuda sem perder a personalidade da cantora. Outros bons momentos ficam por conta da angustiante e poderosa Sleepwalking, a falsamente descontraída Tennis e, por fim, uma visão sobre a vida solteira da cantora na divertida e melancólica Dallas Major.
Lily Allen poderia ter em mãos um clássico moderno com West End Girl se tivesse uma produção à altura. Todavia, o que a mesma faz aqui é algo realmente elogiável, pois é uma amostra do poder das forças das palavras.


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