Segundo álbum da carreira de Ethel Cain, Willoughby Tucker, I'll Always Love You é o tipo de trabalho que facilmente será visto como uma obra de transição na trajetória da artista. Longe da força do debut, o disco oferece indícios dos caminhos que a cantora começa a trilhar, ainda que dando alguns passos em falso em um trabalho imperfeitamente interessante.
Com quase uma hora e quinze minutos e apenas dez faixas, o principal problema do álbum está em certas decisões que quebram sua construção, especialmente a inclusão de três longas faixas instrumentais. A opção, em si, não é ruim — sobretudo considerando o tipo de sonoridade que Ethel sempre estabelece, como mostrou no EP Perverts, lançado no começo do ano. Todavia, no contexto do álbum, essas faixas fazem a obra perder momentum, criando lacunas sonoras substanciais e rompendo a fluidez. Conhecida pela construção lenta de seus trabalhos, aqui a artista amplia ainda mais essa sensação, fazendo com que o álbum por vezes soe arrastado. Tecnicamente e criativamente, são ótimas faixas — especialmente a primeira (Willoughby’s Theme) —, mas, infelizmente, contribuem para uma percepção que afeta consideravelmente o resultado final e a forma como as outras músicas são assimiladas.
Na continuidade da sua jornada artística, Ethel Cain — que produz o disco ao lado de Matthew Tomasi — entrega uma coleção densa, intrincada, melancólica, reflexiva, íntima e emocional, reunindo americana, folk, indie pop e art pop em uma das construções sonoras mais significativas da atualidade. Ainda no início de carreira, já é possível perceber que a cantora está criando uma sonoridade muito particular, intimamente ligada à sua persona artística — algo que merece ser destacado. Todavia, em Willoughby Tucker, I'll Always Love You também se nota a busca por novos horizontes sonoros, com a introdução de elementos, nuances e camadas diferentes do que estávamos acostumados. Isso, novamente, é ótimo, pois evidencia sua evolução. O problema é que o álbum carrega certas arestas que ainda precisam ser polidas, impedindo que a experiência seja totalmente envolvente e criando uma barreira invisível, porém perceptível. Há momentos em que conseguem emergir rachaduras por onde sentimos plenamente a aura do álbum, mas eles não são suficientes para construir a experiência completa.
Essa sensação também se reflete nas composições. As letras continuam emocionalmente poderosas, conduzindo o ouvinte por uma narrativa que funciona como uma prequela de Preacher’s Daughter, revelando uma inteligência lírica impressionante. Contudo, ao contrário do debut, elas não atingem o mesmo grau de vínculo profundamente íntimo com o “espectador”. É como assistir à continuação de um filme que marcou sua vida, mas que não carrega o mesmo peso sentimental e simbólico, ainda que haja uma conexão. Felizmente, nada na presença de Ethel Cain pode ser apontado como negativo: é dela que vem toda a força emocional que o álbum pretende transmitir. É, inclusive, graças à forma como ela carrega a obra que Willoughby Tucker, I'll Always Love You funciona ao final.
Há três momentos que se destacam como os pontos altos do álbum: a linda e tocante abertura com Janie; a grandiosa e completamente envolvente Fuck Me Eyes; e Waco, Texas a faixa de encerramento, com quinze minutos que realmente conseguem nos prender do começo ao fim.
Willoughby Tucker, I'll Always Love You é um trabalho menor dentro da discografia de Ethel Cain, mas ainda assim fascinante e revelador do que a artista está se tornando.


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