14 de dezembro de 2025

Primeira Impressão

Forever Howlong
Black Country, New Road



Ao refletir sobre o futuro da banda Black Country, New Road ao perder um dos seus integrantes ao final da resenha do álbum Ants From Up There, afirmei que seria “interessante ouvir os próximos trabalhos da banda sem um integrante marcante (o vocalista Isaac Wood), mas acredito que a banda ainda tem muito o que mostrar no futuro”. Dito e feito, pois Forever Howlong é definitivamente um exercício na criatividade cativante da banda.

Tenho que apontar que o resultado ao final foi, para mim, algo como “não estou entendendo exatamente o que está acontecendo, mas estou adorando cada minuto” dessa jornada solar, contemplativa, estranha, cativante, densa, elegante e surpreendente. Forever Howlong é o tipo de álbum que não é fácil de digerir e nem deve ser a intenção da banda que seja. O que a gente deve, na verdade, entender é que devemos “apenas” embarcar e simplesmente ser felizes com o que está diante, sabendo que essa viagem não serve para esquecer falhas da produção, mas, sim, para não ficar tentando entender demasiadamente o que está sendo construído pela banda e deixar-se levar totalmente pela excelência sonora que o Black Country, New Road entrega. E boa parte dessa percepção parece ter vindo de uma singela, mas importante, mudança sonora da banda.

E essa mudança é o giro de foco do rock para o pop. Isso, porém, não quer dizer que o álbum seja minimamente pop. Não na concepção tradicional, mas, sim, na visão mais experimental. Forever Howlong é, na verdade, um trabalho com uma base bem mais focada no art pop/baroque pop do que no art rock/indie rock do álbum anterior. Todavia, o álbum também tem suas estruturas no rock de maneira bem decisiva e importante. O que quero dizer é que, para construir a sonoridade ouvida aqui, a banda busca nas possibilidades do pop novas saídas, novos caminhos e novas visões para incrementar a sua já estabelecida sonoridade. Assim sendo, o álbum vai ganhando mais escopo sonoro com essa possibilidade, criando uma coleção impressionante, grandiosa, falha, magnética, surpreendente, vertiginosa e desconcertante, que mistura com apuro os elementos já citados com outros elementos como, por exemplo, folk, progressivo, chamber pop, indie pop, entre outros. Acredito que quem escuta o álbum já tem uma boa ideia da atmosfera do trabalho ao ouvir sua faixa inicial, que também foi o primeiro single: a excêntrica Besties.

Apesar de ainda navegar pelo rock, a banda adiciona uma pesada e significativa carga de baroque/progressive pop, que transforma a canção em um trabalho glorioso, iluminado e surpreendente. Sabe aquelas canções que dão vontade de bater o pezinho ao som da batida e cantarolar enquanto dirige em uma manhã ensolarada de primavera? Não, mas acredite em mim que você vai sentir essa sensação ao ouvir Besties, pois a canção exala essa sensação devido à sua atmosfera solar e a uma construção instrumental resplandecente, que é uma das marcas da banda.”

Outra mudança importante é a mudança de vocais principais. Devido à saída, como já citada, do vocalista, a banda resolveu dar o cargo principal para duas integrantes mulheres, sendo dividido entre Tyler Hyde e Georgia Ellery. E isso dá, sim, nova dinâmica para as canções, mas não altera o resultado qualitativo, já que o que ouvimos são performances impecáveis e, em certos momentos, brilhantes, que acrescentam muito à dinâmica e à transição de liderança da banda. E um dos melhores momentos do álbum é também seu momento mais brilhante em questão vocal, na presença da contemplativa e profunda Two Horses, com uma performance devastadora da Ellery.

Outros momentos que precisam ser citados são a imensa graciosidade de tirar o fôlego da condução de Socks, a magnitude controlada de Happy Birthday e, por fim, a dualidade entre a sequência direta da densa For the Cold Country para a luminosidade ácida de Nancy Tries to Take the Night.

Forever Howlong é um álbum que ainda não faz o Black Country, New Road chegar à sua glória plena, mas, com certeza, é uma peça importantíssima para esse caminho que, mais cedo ou mais tarde, chegará ao seu ápice.



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