9 de abril de 2015

Primeira Impressão

Eu Vou Fazer uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!
Johnny Hooker



Quando eu escrevi sobre a Valesca Popozuda recentemente houve uma pequena polêmica nos comentários. Não respondi na própria resenha, pois já tinha a ideia de fazer esse post e decidi "responder" aqui. Quando elogiei a funkeira, eu não escrevi em nenhum momento que a música dela era o supra-sumo da MPB, mas, levando em conta o atual cenário do mainstream (as músicas que são consideradas sucesso), Valeska é tão despretensiosamente divertida e carismática que é o tem de mais pop na música no Brasil. Repito: o melhor na música pop brasileira e, não, na música popular brasileira. Para quem não está satisfeito com o que se apresenta no mainstream cabê cavar um pouco mais fundo para encontrar o que há de novo na MPB que seja bom de verdade. Ou então, volta-se para o passado e (re)descobrir a MPB clássica. Acredito que eu expus os meus argumentos de maneira clara na resenha, mas gosto é gosto e todos vocês tem a direito de discordar ou não. Porém, para quem precisa algo de mais substancial na MPB atual e não conhece, eu apresento uma opção excepcional: Johnny Hooker.

Cantor e ator, o pernambucano de 27 anos teve o primeiro grande destaque nacionalmente depois quando foi indicado o prêmio Multishow de música em 2011. Em 2013, Johnny participou do filme Tatuagem e ano passado da novela Geração Brasil. Em ambas havia canções dele na trilha sonora. Esse ano, o cantor lança o seu primeiro álbum sob a alcunha de Johnny Hooker já que o álbum anterior (Roquestar) foi com o nome de Johnny & The Hookers. Eu Vou Fazer uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito! é a prova que ainda existe vida inteligente fora do mainstream brasileiro sem precisar apelar para o pedantismo ou a chatice da concepção de que MPB é apenas bossa nova. O trabalho é uma rica e magnética mistura de rock nacional com MPB, blues, música latina, um pouco de samba e axé envernizado com o melhor da música "brega" nacional. Sim, música brega, mas não essa que ouvimos hoje. A música "brega" que me refiro é aquela de nomes como Waldicj Soriano, Nélson Gonçalves e de vários outros que estouram nos anos oitenta. (E, para quem já tem algum preconceito, eu peço que pesquise a importância desses nomes para a música no Brasil.) Porém, Johnny e a produção primorosa do álbum não deixa a sonoridade soar datada devido a suas referências, mas Eu Vou Fazer uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito! resulta em uma sonoridade atual reverenciando os originais. Boa parte disso também vem do fato da mistura com outros nomes do MPB especialmente Cazuza e Ney Matogrosso. 

O grande responsável por isso é o próprio cantor: dona de uma voz poderosíssima que não tem medo de entregar emoções no melhor estilo "novela mexicana" exalando sexualidade, escracho e melancolia assim como fazia Cazuza, mas com um toque de refinamento e classudo assim como faz Matogrosso. O ápice disso é na arrasadora Amor Marginal que tem uma atmosfera parecida com Codinome Beija Flor mistura com blues americano. Buscando uma indenidade ambígua em relação a sua sexualidade, as composições Eu Vou Fazer uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito! são trabalhos primorosos demostrando o quanto ruim está a música o nível dos compositores das canções que fazem sucesso nas rádios e no iTunes. O tom das faixas é bastante dramático falando sobre desilusões amorosas e amores mal resolvidos como se o mundo fosse acabar amanhã. Essa, sim, é a verdadeira "sofrência". Além da já citada Amor Marginal, outros grandes destaques do álbum é a linda Segunda Chance, a que dá nome ao álbum Eu Vou Fazer uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!, a bela Volta. Apesar de apontar essas faixas, o trabalho de Johnny Hooker é digno de ser ouvido em sua completude. E fica aqui uma pequena dica para quem quer ir além da superfície da música feita no Brasil.

Um comentário:

João disse...

Jota. Obrigado por me fazer enxergar que no Brasil ainda existe músicas muito boas.
Album maravilhoso.
Obrigado pela dica