2 de setembro de 2015

Primeira Impressão

Grand Romantic
Nate Ruess


Existe uma expressão em inglês que, particularmente, eu gosto muito de usar, pois ela consegue definir tudo o que é exagerado dando uma característica bastante própria: "over the top" pode ser traduzida livremente como "acima do limite". Algo que é tão exagerado que passa até mesmo os limites do bom senso. Esse é o caso do primeiro álbum solo do vocalista do fun. Nate Ruess intitulado Grand Romantic. Tudo no álbum está "over the top", mas, de alguma forma, o resultado final funciona exatamente por esse seu, também, defeito.

Grand Romantic é uma celebração do que existe de mais clichês, piegas, melodramático, descomedido, brega e grandiosamente desproporcional no rock moderno começando pelas composições. Nate Ruess exerce a sua prerrogativa de abusar de todos os maneirismos linguísticos para entregar as composições tão românticas, mais tão românticas, mais tão românticas que parecem terem sido escritas com uma tinta feita de açúcar misturado com mel sob uma papel feito de lágrimas de tristeza pelo fim de um casamento. Resumidamente: Grand Romantic é a coleção de composições que mais passam aquela sensação de "vergonha alheia" e ao mesmo tempo a sensação de "prazer culposo" do rock indie desde James Blunt em Back to Bedlam de 2005. O que difere o trabalho aqui com o de Nate no fun. é que a banda parecia não se levar muito a sério e quando se levava havia uma menor pretensão nas letras como, por exemplo, na ótima Some Nights. Mesmo assim, ainda é possível "curtir" alguns momentos de puro breguice deliciosa como na canção Moment em que Nate canta: Well, I'm fineI just need a moment/ I'm alright right here on the floor/ Well, I'm fine/ I just need a moment to cry.

A produção de Jeff Bhasker, que produziu o sucesso We Are Young, consegue encontrar o tom certo para a sonoridade indie rock de Nate: esquizofrênica, barulhenta, confusa e deliberadamente "over the top". Tudo é grandioso nos arranjos pomposos e com uma infinidade de instrumentos adicionados, por isso Grand Romantic ganha a atmosfera correta para moldurar as composições, mas que sofre da síndrome de querer utilizar todas as possibilidades ao mesmo tempo. Todas as canções apresentam mudanças drásticas em seus arranjos ajudando a criar uma sensação de desconforto que impera em durante todo o álbum. Um bom exemplo é Great Big Storm que começa com um refrão frenético e "para cima", passa por uma parte mais delicada e suave, depois fica em um meio termo, volta para a batida frenética, aparece uma parte que parece que o arranjo ficam em "off" para terminar, então, na batida intermediaria. O que impossibilita Grand Romantic de realmente se tornar um maravilhoso álbum ruim é a presença de Nate: dono de uma das melhores vozes masculinas, o cantor exagera em todos os momentos utilizando a sua distinta e potente voz para, basicamente, gritar em todos as canções. Sim, o espírito do álbum é o "over the top", mas existe a necessidade de adicionar nuances, texturas e interpretações diferentes. Apenas o "gritar" não é suficiente para adequar-se ao estilo proposto. Grand Romantic poderia ser uma grande bomba. Não é. Grand Romantic poderia ser um grande trunfo. Também não é. Mesmo com todos os seus exageros, o trabalho de Nate Ruess deve ser o primeiro "over the top" que fica exatamente no meio do caminho.
PS: A capa do álbum é, porém, simplesmente lindíssima.

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