29 de setembro de 2015

Primeira Impressão

Honeymoon
Lana Del Rey



O terceiro álbum da Lana Del Rey é mais um marcador da linha temporal que, aos meus olhos, começou mostrando a loucura por trás do conservadorismo americano dos anos cinquenta em Born To Die, passou pela depressão e desilusão iniciada pela guerra do Vietnã entre a metade dos anos sessenta e começo dos anos setenta em Ultraviolence e, agora, deságua na melancolia pós-guerra e preocupação com o futuro do final dos anos setenta de Honeymoon. Claro, toda essa montanha-russa de emoções é conduzido pelo fascínio que Lana tem por esse dream pop/rock e a nítida sensação que o tempo para a cantora é outro tempo que não o tempo dos meros mortais. Colocando tudo isso e pensando de forma direta, Honeymoon é outro acerto na carreira da cantora mesmo que ainda não seja o trabalho genial que era esperado.

Melhor que Ultraviolence e inferior a Born To Die, Honeymoon tem na presença do experiente Rick Nowels a base perfeita para aparar algumas arestas soltas no trabalho anterior. A primeira mudança são as composições que estão com uma carga mais poética, etérea, delicada e usando perfeitamente de lindas imagens metafóricas que combinam com a personalidade de Lana. Um ótimo exemplo é a sexy e deliciosa Salvatore que conta o passeio em uma tarde morna de verão com um italiano, mas na verdade é sobre sexo. Nada de vulgar aparece na composição, pois é preciso pensar um pouco para entender o significado de "soft ice creams". Todavia, não espere que o tom de Lana tenha mudado, pois a cantora ainda está no modo "quero estar morta" já que todas as canções ainda têm a atmosfera da sua famosa persona "melancólica depressiva contemplativa de menina rica de coração partido que busca a cura em homens errados, em drogas nem tão pesadas e na doce loucura da bebida o seu porto seguro", Por enquanto essa "personagem" criada por Lana ainda não caiu no cansativo por causa das pessoas com que a cantora vem trabalhando que conseguem dar uma polida diferente em cada álbum. Além disso, a cantora é uma das poucas inseridas no mainstream que alia perfeitamente essa estética alternativa com o lado comercial. Todavia, em um futuro não muito distante, Lana vai precisar alterar algumas características suas para não se tornar extremamente cansativa e repetitiva, mas, por enquanto, ainda funciona lindamente.

Entre a sonoridade artificialmente épica do primeiro álbum e a sombria naturalmente do segundo trabalho fica a sonoridade de Honeymoon. De uma sutileza invejável, a produção do álbum (assinado pela própria Lana com Rick Nowels e Kieron Menzies) construí uma jornada sonora instigante com as suas baladas down-tempo/mid-tempo sempre elaboradas com uma instrumentalização cuidadosamente trabalhada. Muitos estão falando que o álbum parece com Born To Die em termos da sua musicalidade, mas, como já escrito antes, o primeiro álbum da Lana tinha uma pensada pretensão artística que em Honeymoon não acontece: o álbum tem uma fluidez nítida e uma atmosfera bem menos grandiosa. Todavia, o aspecto que mais bilha no álbum é a voz de Lana: a cantora não encontrou apenas o seu personagem perfeito transitando entre a sua faceta sussurrada/gatinha manhosa até a faceta sexy corpulenta/chocolate derretido, mas, em todos os momentos, Lana demonstra uma qualidade técnica primorosa bem acima dos trabalhos anteriores. A faixa que abre o álbum e dá nome ao mesmo, Honeymoon, já mostra todo o poder vocal da cantora, além de ser a melhor faixa do álbum. Ao lado dela, outros ótimos momentos ficam por conta da já citada SalvatoreThe Blackest Day24. A inclusão do poema de T.S. Eliot com modificações do musico Keefus Green Burnt Norton foi uma boa ideia, mas a regravação do clássico Don't Let Me Be Misunderstood poderia ter rendido um trabalho inesquecível. Chegado no seu terceiro álbum, Lana Del Rey vai se confirmando como uma artista de verdade e, não, um produto fabricado como se mostrou no começo da carreira. Todavia, a cantora precisa continuar encontrando novos parceiros que injetem novidade na sua sonoridade para os próximos álbuns.

2 comentários:

João disse...

Esperei ansiosamente por essa resenha haha
Eu esperava muito pouco desse álbum. Quando escutei, me surpreendi totalmente. Realmente maravilhoso
Jota. Se não for muito incômodo, indico o novo álbum da Julia Holter Have You in My Wilderness que é mais do que fantástico. E, se rolar uma resenha fico muito satisfeito
Obrigado pelas suas resenhas maravilhosas

Ronne Wesley disse...

Este álbum é um deleite para os meus ouvidos, achei o melhor álbum da Lana até o momento, a sonoridade (arranjos e batidas) maravilhosa, a voz que dá ***vida*** as canções está em sua melhor forma até agora.

Como o colega acima recomendou, o novo álbum da Julia Holter é genial.