18 de fevereiro de 2016

Primeira Impressão

The Life of Pablo
Kanye West


Carta aberta à Kanye West:

"Querido Kanye Omari West,

Como as coisas estão indo para você? Soube que recentemente você foi pai pela segunda vez. Meus parabéns pelo novo filho e, claro, desejo a sua esposa Kim e a North West o melhor. Entretanto, essa carta não é para tratar de amenidades. Eu estou escrevendo essas mal ajambradas linhas para falar sobre outro assunto: o seu novo álbum The Life of Pablo

Não irei negar ou atenuar as minhas preferências musicais, por isso eu afirmo que sempre foi um fã seu. Quero dizer, porém, que sempre fui fã do artista Kanye, não exatamente da pessoa Kanye. Eu já tinha escrito algumas vezes sobre isso quando afirmei que sempre consegui separar essas duas faces suas. De um lado, o rapper/produtor extraordinário com uma visão muito a frente ao seu tempo. De outro lado, o homem com um ego do tamanho de uma baleia azul e de uma arrogância sem limites. Claro, em várias vezes essas duas faces se cruzavam, mas havia, até o momento, uma espécie de simbiose nessa mistura que era a responsável pela personalidade artista sua. E o melhor era que o Kanye artista sempre conseguiu sair por cima, mesmo que muitos não achem o mesmo. Infelizmente, dessa vez parece que terei que concordar com muitos dos detratores, pois The Life of Pablo é mais sobre a pessoa Kanye do que o artista Kanye.

Vamos aos fatos, querido Kanye: The Life of Pablo é sobre você. Você e o seu amor por você. Você e o seu ódio por quem não ama você. Você e o seu amor por quem ama você. Você sobre o quanto você ama ser um talento tão raro e genial. Você e você. E você poderia perguntar: qual o problema de você fazer um álbum sobre você? Nenhuma exatamente, mas The Life of Pablo é sobre o seu pior você: o egocêntrico Kanye West. E o pior: apenas sobre você. Muitos podem dizer que a maioria das suas canções é sobre você. Até posso concordar, mas é necessário entender que o você sempre conseguiu ir mais profundo em sua exaltação pessoal. The College Dropout era a sua maneira de exorcizar o seu trágico acidente que quase o matou. Late Registration era a sua maneira de colocar para fora as suas percepções sobre a sua nova fase na carreira, depois de conhecer o sucesso. Graduation foi a sua consolidação como artista e também o momento que você começa a flertar pesadamente com novas sonoridades. 808s & Heartbreak foi sobre os seus amores e desilusões. Então, você lança My Beautiful Dark Twisted Fantasy se transformando no seu trabalho mais denso, poderoso e profundo em que você relata os seus sentimentos mais obscuro e sinceros. O seu último trabalho solo é o ótimo Yeezus que, apesar de mostrae alguma megalomania sua, ainda consegue mostra qual a sua posição perante a atual situação do negro na sociedade. Dessa vez, entretanto, você decide falar das coisas mais superficiais que você poderia pensar. Tudo é tão superficial e voltado para o seu umbigo (da pior maneira) que The Life of Pablo se torna uma crônica sobre o que há de mais irritante na indústria do entretenimento. A busca pela polêmica fácil ao chamar a Taylor Swift de vadia e afirmar que foi por sua causa que ela ficou famosa em Famous é completamente desnecessário e apelativo. Apesar de todos os problemas, ainda existe vivo o artista Kanye que, cercado por dezenas de nomes talentosos, consegue dar um bom verniz para as composições, mostrando o seu ótimo domínio com as rimas e as construções impecáveis. Nada que tire o ranço das escolhas feitas por você. Quero que você entenda também que The Life of Pablo não é álbum ruim. Longe disso, na verdade. O trabalho está bem acima de muitos dos seus contemporâneos. Acontece que The Life of Pablo é o seu pior álbum. 

The Life of Pablo é um trabalho cuidadosamente bem produzido por você e umas duas dezenas de nomes talentosos. Por isso, achar qualquer problema técnico ou erro nessa parte seria uma inverdade. Todavia, dentro da sua megalomania de achar que esse álbum é o melhor de todos os tempos, você esqueceu de prestar atenção nas faixas do álbum para descobrir a verdade: The Life of Pablo é muito bom, mas não mais do que isso. Tudo feito no álbum sonoramente já foi realizado por você mesmo anteriormente, desde as ousadas elaborações estruturais até a mistura perfeita de dezenas de gêneros para criar o seu hip hop. Dessa vez falta, não apenas a sensação de novidade, mas a sensação de urgência que as suas músicas tinham. Havia um sentimento que as suas músicas precisavam ser ouvidas o mais rápido possível. Em The Life of Pablo, seja pelo conteúdo das composições ou pela campanha de marketing ou por suas atitudes, não existe esse fator tão necessário nos dias de hoje. O grande público precisa sentir essa necessidade. Nem mesmo o fato do álbum parecer contar uma história com começo, meio e fim não ajuda a criar essa necessidade de querer ouvir todas as faixas várias e várias vezes. Na verdade, não são todas que tem esse problema. Existe uma que serve como o momento que podemos ouvir o artista Kanye em toda a sua plenitude.

Ultralight Beam, faixa que abre o álbum, não é apenas a melhor do álbum, mas aonde podemos ver quase todas as qualidades de The Life of Pablo em estado bruto: o gospel e os samples. Como você mesmo disse, o álbum é um trabalho gospel. Não completamente, mas quando o gospel entra nessa equação parece que uma força divina domina a faixa e faz quem ouve entrar em transe. Uma especie de pregação em culto religioso que termina em uma revelação para as pessoas presentes. Extremamente bem produzida, participações espetaculares e uma composição que ameniza o esquema "eu,eu,eu", Kanye, meu amigo, você se torna incontrolável. O outro ponto positivo é o uso de uma quantidade enorme de samples. Muitos irão dizer que você exagerou, mas acredito que as escolhas de samples feitas para construir o álbum foram perfeitas, beirando a genialidade para ser sincero. Partes de músicas (letra, melodia ou a gravação original) e gravações de vozes foram escolhidas com um cuidado primoroso, mostrando o conhecimento o seu conhecimento musical. Esse é o artista Kanye.

Uma pena, porém, que mesmo sendo o protagonista de The Life of Pablo, você prefira ficar na sombra de vários convidados especias e decida escolher uma mistura de "cantar" com fazer rap em várias canções, abusando do autotune quando não precisa. No momento que decide apenar fazer rap de verdade aparece a sensacional No More Parties In LA com a magistral participação do Kendrick Lamar. O álbum vale a pena ser ouvido, mas, infelizmente, não será tão impactante como os seus outros trabalhos. Talvez quando cair na real para você será o suficiente para o velho Kanye, egocentrista e arrogante, mas que sabe onde está o verdadeiro Kanye: o artista. Estamos na espera.

Com amor,

Jota."

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa! Muito bom rs SÉRIO... O seu blog MERECE ser mais conhecido, você escreve muito bem e suas críticas são incríveis... O Kanye West TEM que ler isso kkkk eu nunca curti muito o som dele, mas só de ter lido o trecho que você cita todos os seus discos e as qualidades dos mesmos já deu uma vontade louca de ouvir... Só um "conselho": em alguns textos, você " come" algumas letras e as vzs repete palavras (como nessa crítica), então é bom revisar ;) ah por favor não abandone esse blog RS SUCESSO!

Jota disse...

Muito obrigado pelo elogio e o incentivo! Os erros já foram corrigidos. Volte sempre!