7 de fevereiro de 2016

E Que os Jogos Comecem...

Formation
Beyoncé

Existe um aparente consenso que  todos os artistas, não importando qual seja o ramo, atingem o seu ápice criativo em um determinado ponto das suas carreiras. Durante esse período, os artistas são capazes de liberam todo o seu potencial em criações que conseguem ser a representação máxima do talento individual. Muitos artistas, depois do fim desse período, não voltam a repetir esse momento. Outros conseguem se manter em um patamar muito alto, sem precisar repetir exatamente esse momento. Entretanto, um punhado de gênios conseguem repetir várias vezes esse ápice criativo durante a sua carreira e, ás vezes, superam várias vezes o momento anterior. Ainda não podemos afirmar qual será o destino da Beyoncé, mas não há como negar que a cantora está passando por esse ápice desde que lançou o álbum homônimo Beyoncé de 2013. Com o lançamento do buzz single Formation ajuda a confirmar essa fase.

Recriando quase a mesma estratégia surpresa do lançamento do seu último álbum, Beyoncé lançou Formation no momento perfeito em todos os sentidos. Primeiro, um dia antes da sua apresentação ao lado do Coldplay no Super Bowl e de depois de um grande período em que estava na "encolha", ajudando a recolocar o seu nome na "boca do povo", mesmo que tenha sido uma música lançada apenas no Tidal e não irá impactar nas paradas mundiais. Em segundo, e mais importante, a cantora se mostra consciente sobre o tempo em que vive e reflete sobre em Formation, pois, como dizia Nina Simone, "é dever do artista refletir sobre o seu tempo".

Com o turbilhão social que os Estados Unidos enfrenta sobre a discussão sobre a diversidade na sua sociedade, especialmente o lugar do negro, Formation é a carta aberta da cantora em relação a sua posição sobre o assunto. Entretanto, não é apenas isso, mas, na verdade, como toda essa configuração social influencia a sua vida. A canção é basicamente uma ode sobre o orgulho de Beyoncé em ser negra com todas as características físicas ou não físicas. Em um momento tão conturbado, o fato de Khalif "Swae Lee" Brown, autor da canção, não criticarem de forma explicita o tema, não significa, porém, que a contundente critica não esteja lá de maneira avassaladora:

"I like my baby hair, with baby hair and afros

I like my negro nose with Jackson Five nostrils"

Ao exaltar o cabelo de Blue Ivy e dizer a felicidade por ter os seus traços como são, Beyoncé dá aquele tapa na cara de milhões que acreditam que a beleza é feita por um padrão, normalmente retirado de pessoas caucasianas. Além disso, a cantora ajuda a reconstruir a auto-estima e a dignidade de tantas meninas e meninos que se sentem extremamente diminuídos pelos padrões de beleza irreais e preconceituosos. Todavia, expor essa mensagem não significa ter como resultado uma boa composição. O que faz de Formation uma verdadeira obra genial é a capacidade de unir a mensagem com a estética, ou seja, a união entre a forma e o conteúdo. Lançando referências pop assim como referências sobre a sua própria vida (Illuminati é a melhor delas) durante toda a canção, a canção é contemplada por um trabalho avassalador com rimas afiadíssimas, construções sintáticas sensacionais e escolhas semánticas inteligentes que transformam a composição de Formation a melhor da cantora até hoje, especialmente o verso que o trecho acima for retirado. Entretanto, existe muito mais para ser "explorado" na canção.

Seguindo a linha dos seus últimos lançamentos, Beyoncé explora o seu lado experimental em Formation, mas sem perder o senso de criar uma música que possa atender as demandas do que pede um sucesso pop. Comprovando que não há necessidade de "farofar" para criar uma canção dançante. Só que Formation é mais que apenas uma canção dançante, mas, na verdade, uma verdadeira explosão de energia que mistura trap, hip hop e pop em um caldeirão hipnotizador. Entregando a sua melhor produção até o momento, Mike Will Made It ajuda a estabelecer ainda mais a nova sonoridade da cantora. O único problema é, porém, que a versão liberada para download é um pouco inferior a versão apresentada no genial clipe. Nessa segunda versão, Formation tem a sua estrutura alterada e ganha sample com de vozes de personalidades locais. Apesar disso, a canção não perde brilho suficiente para diminuir a sua qualidade, pois 2016 começa com Beyoncé chutando a porta, mostrando todo o seu poder. Agora, para os outros artistas, que os jogos comecem....
nota: 9

Um comentário:

lucas lopes disse...

Me surpreendeu. Tá muito bom mesmo.