9 de novembro de 2025

Primeira Impressão

DON'T TAP THE GLASS
Tyler, The Creator



Como um dos rappers mais viscerais, prolíferos e distintos da atualidade, Tyler, The Creator chegou a um momento da sua carreira em que é perfeitamente capaz de entregar uma obra menor, como é o caso de DON'T TAP THE GLASS, e ainda assim se manter no topo em todos os sentidos.

A maior qualidade do álbum é perceber que, claramente, o rapper tem como intenção, em seu nono trabalho, apenas divertir o público e também se divertir. E isso é ouvido no momento em que percebemos que a produção segue um caminho bem diferente da construção sonora conceitual e grandiosa dos álbuns anteriores, escolhendo algo mais direto e dançante que, para mim, é quase uma versão de pop sob a visão de Tyler, The Creator. Na verdade, acredito que o rapper tenha entregado em DON'T TAP THE GLASS um dos melhores álbuns pop masculinos em muito tempo: rápido, despretensioso, rasteiro, estilizado e grudento. Todavia, essa visão de “pop” é a visão de um artista com uma claríssima e única maneira de construir sonoridades, marcada a ferro e fogo — especialmente pelo fato de o rapper ser o único produtor do álbum.

Sonoramente, o álbum é uma mistura impressionante e bem azeitada de pop rap, hip hop, hip house, synth-funk, electro, neo-soul, R&B, post-disco e alguns outros gêneros, criando uma coleção convidativa, elétrica e única de faixas que dá essa nova aparência ao rapper, mas sem tirar em nenhum momento sua personalidade “larger than life”. Mesmo mudando a sonoridade, não há como duvidar de que estamos diante de um trabalho de Tyler, The Creator em todos os sentidos, pois as faixas continuam com uma força criativa indubitavelmente sua, graças à sua presença gigantesca. Cada faixa é inundada pela voz gutural de Tyler, mas que também sabe se moldar para atender às curvas da produção. No melhor momento do álbum, a deliciosa synth-funk/post-disco Ring Ring Ring, o rapper mistura perfeitamente estilos vocais para preencher todas as lacunas da canção, criando uma textura tão única que outros artistas só alcançariam com a presença de um featuring.

Preciso apontar que, infelizmente, o resultado final de DON'T TAP THE GLASS é inferior aos trabalhos anteriores do rapper, pois a falta da pomposidade criativa dos álbuns passados deixa aqui uma certa sensação de que falta algo para complementar a construção do disco. Além disso, sua parte final parece perder fôlego, tornando o que deveria ser um encerramento apoteótico menos impressionante e quase beirando o anticlimático. Todavia, como já relatado anteriormente, este é um álbum feito para divertir de maneira despretensiosa — e isso é alcançado desde os primeiros momentos, com a explosiva e elétrica faixa electro/hip hop Big Poe, com a presença de Pharrell Williams, que logo é seguida pela sensual e sexual hip house Sugar On My Tongue. Outro momento que merece destaque é a divertidíssima faixa-título Don't Tap That Glass / Tweakin'.

DON'T TAP THE GLASS é uma obra menor dentro da recente discografia de Tyler, The Creator, mas isso não é um problema quando se trata de uma obra menor com essa qualidade.


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