16 de novembro de 2025

Antes Tarde do Que Nunca

Hard Candy
Madonna




Chegando ao final desse longuíssimo especial em que avaliei a discografia principal da Madonna ao resenhar os álbuns que, até o momento, ainda não tinham sido analisados, retomo um ponto importante: todos os álbuns lançados depois do alvo inicial deste especial já haviam sido comentados quando foram originalmente lançados. Lançado em 2008, Hard Candy é, basicamente, o álbum que abre a fase atual da cantora, pois, infelizmente, marca o início de uma sequência de trabalhos que transitam no terreno do apenas mediano, ficando distante dos momentos verdadeiramente triunfais que Madonna já nos entregou. Ao analisar o álbum quase vinte anos depois, o motivo para a queda drástica de qualidade parece ser apenas um: Madonna decidiu seguir tendências, e não ser tendência.

O álbum chega em um bom momento da carreira da cantora. Ela vinha do sucesso colossal de Confessions on a Dance Floor e da Confessions Tour, que, na época, se tornou a turnê de maior rendimento para uma artista feminina na história. Além disso, foi introduzida no Rock and Roll Hall of Fame no mesmo ano em que lançou o disco. O grande destaque, porém, foi o anúncio da saída da Warner após 25 anos e a assinatura de um contrato de 120 milhões de dólares com a Live Nation. Na vida pessoal, Madonna enfrentava uma crise no casamento com Guy Ritchie — cuja separação seria anunciada ao final de 2008 —, recebia críticas pesadas pela adoção de David Banda e ainda lidava com a chegada aos cinquenta anos. Apesar de turbulento, esse não foi exatamente o momento mais caótico da carreira dela. Contudo, para entender Hard Candy, é necessário olhar também para o que acontecia fora da bolha de Madonna.

Boa parte do mainstream dos anos 2000, especialmente sua segunda metade, foi moldada pela visão estética e sonora de Timbaland e Pharrell Williams, responsáveis por grandes clássicos modernos do pop. Nomes como Nelly Furtado, Kelis, Usher, Britney Spears, Gwen Stefani, Aaliyah e, principalmente, Justin Timberlake foram alguns dos artistas que trabalharam com um ou com ambos. Assim, quando Madonna se interessou por essa sonoridade, não era exatamente algo novo — e, pela primeira vez, não tinha como elevar aquilo a uma nova dimensão, pois estava deliberadamente seguindo uma tendência. Mesmo tentando dar seu toque característico, Madonna bate em um muro criativo ao fazer essa escolha.

Madonna nunca foi seguidora; sempre foi líder. E, quando tenta seguir, parte da magia se perde. Fica evidente que estamos ouvindo uma Madonna tentando ser “cool” e inovadora, mas acabando por se moldar a limites pré-estabelecidos por outros. Mesmo com produtores que vinham entregando trabalhos inspirados para outros artistas — incluindo o próprio Justin Timberlake, além de Timbaland, Danja e The Neptunes —, Hard Candy surge fragmentado, sem foco e completamente fora de eixo. É como ver um piloto de Fórmula 1 dirigindo um Fusca 69, a quarenta por hora, no circuito mais rápido do campeonato. O talento está lá, mas falta material à altura.

Sonoramente, o álbum é uma mistura de dance-pop com elementos de funk, R&B, house e disco — nada distante do que ela já havia explorado antes. Todavia, a produção não parece compreender como transformar essa combinação em algo que carregasse verdadeiramente a essência de Madonna, especialmente no quesito instrumental. Os arranjos de Hard Candy estão entre os piores de sua carreira, mostrando-se rasos, simplistas e desprovidos de personalidade. Isso cria uma lacuna gigantesca entre o que se espera de uma faixa da Madonna e o que escutamos aqui. As batidas atendem bem aos estilos de seus produtores, transmitindo uma identidade reconhecível, mas o trabalho final é mal executado, sem a substância que sempre foi um dos diferenciais da sonoridade dela. Felizmente, existem alguns momentos que fazem sentido — bolsões raros de criatividade.

E, apesar de não ser uma grande música, 4 Minutes é o melhor momento do álbum e a faixa que melhor envelheceu. É dançante, envolvente e carrega a marca indiscutível de Timbaland, além de se beneficiar fortemente da dinâmica entre Madonna e Justin Timberlake e da química palpável entre os dois. Poderia ser mais ousada? Sim. Mas, ainda assim, funciona — algo que não pode ser dito sobre a maior parte das composições do disco.

Uma das melhores características de Madonna sempre foi a capacidade de entregar letras que equilibrassem pop puro com profundidade temática. Aqui, porém, todas as canções têm uma superficialidade gritante e pouco convidativa, mesmo quando alguns momentos funcionam parcialmente. Candy Shop, por exemplo, é uma mistura interessante de dance-pop e hip hop trabalhada pelo The Neptunes, com estética forte, mas enfraquecida por uma letra clichê e infantil, que compara Madonna à dona de uma doceria repleta de doces para vender. Poderia funcionar se abraçasse a bobeira por completo — ou se evitasse a metáfora —, mas fica no meio do caminho. Em um álbum tão minguado de bons momentos, é preciso reconhecer que a batida com influência de funk/disco em Give It 2 Me faz a gente bater os pés, e que a baladinha mid-tempo Miles Away ajuda a salvar o conjunto.

Hard Candy não é um trabalho totalmente esquecível, mas acaba ofuscado pela gigantesca trajetória da artista. Ao finalizar essa sequência de análises, fica ainda mais evidente para mim a imensidão e importância de Madonna para a cultura pop: sem ela, o cenário atual não seria o que é. Que a próxima resenha de um material inédito — o aguardado Confessions on a Dance Floor Part 2 — sirva para registrar a volta triunfal da maior de todas ao seu ápice.

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