11 de agosto de 2017

Primeira Impressão

Coração
Johnny Hooker



É nítido notar que de uns tempos para cá que o meio musical LGBTQ no Brasil cresceu de maneira rápida. Não é ainda do tamanho que precisa ser, mas já dá frutos auspiciosos. Um desses frutos é o cantor pernambucano Johnny Hooker que chega no seu segundo álbum, Coração, como um verdadeiro destaque da atual safra de talentos da MPB, mesmo que o trabalho não se compare com o seu predecessor o ótimo Eu Vou Fazer uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!.

Em Coração, Johnny se arrisca muito mais no quesito sonoridade ao dar profundidade nos gêneros que flerta, indo do samba até carimbo, passando pelo frevo e carimbó e chegando ao axé e eletrobrega. Sem nenhum medo de soar brega ou exagerado, Johnny Hooker sabe como fazer uma canção que consegue pegar o que a música brasileira tem de mais fino e misturar no que a mesma tem de mais popular e criar uma música que consegue transitar sem maiores problemas. A linha é tão tênue que aqueles críticos elitistas podem não aprovar a tessitura popularesco da sonoridade de Johnny e o grande público pode fugir de construções elaboradas e, também, com a temática LGBTQ presente constantemente nas composições. Quem abrir o coração poderá ouvir um artista em busca de apenas a sua verdade que pode ser tantas coisas como um prisma sob a luz. Tecnicamente perfeito, Coração perde alguns ao não ter a mesma coesão que o cantor entregou no álbum passado. 

Acredito que na vontade de mergulhar em tantas influências sonoras faltou dar a famosa ligar para conseguir unir todas as faixas, principalmente no que se relaciona as composições. Enquanto algumas são de um poder emocional marcante como a linda balada Pagina Virada ou divertidas e descompromissadas como a eletrobrega Corpo Fechado com a Gaby Amarantos, outras careceram de um trabalho com maior afinco lirico com em Caetano Veloso (homenagem ao cantor baiano) e em Touro. Mesmo assim, Johnny Hooker é um perito em saber como falar sobre amor e as duas dores de um jeito completamente real, cativante, cafona na medida certa e, principalmente, com um inteligência lirica extraordinário. E o que falar de Johnny como interprete? Mesmo com toda polêmica envolvendo ele com Ney Matogrosso, não há como negar que Johnny bebe das mesmas fontes ao ser de uma voracidade cativante ao interpretar várias das suas canções. Além disso, o cantor mostra versatilidade e a capacidade vocal que, infelizmente, quase não existem nomes assim na atual música brasileira. Outros momentos de destaque do álbum fica por conta da ótima introdução na faixa Intro, o deliciosa samba Eu Não Sou Seu LixoCoração de Manteiga de Garrafa e o seu arranjo estilo Timbalada, o frevo Escandalizar e, a melhor de todas, a avassaladora Flutua. Johnny Hooker é a prova que a boa MPB não está morta, mas apenas está vivo em nichos que antes quase não se tinham visibilidade.

Um comentário:

lucas lopes disse...

Ratifico tudo. Não é melhor que o primeiro, mas é gostoso de ouvir. Faz resenha do novo do rei, Otto.