13 de novembro de 2017

Primeira Impressão

The Thrill Of It All
Sam Smith


Comparações são sempre perigosas quando se trata de artistas, pois as mesmas podem criar imagens que diminuem ou engrandecem demais aqueles comparados. Ás vezes, porém, é necessário já que esse parece o caminho mais natural. 

Ao chegar ao lançamento do seu segundo álbum, Sam Smith se vê em um cenário muito parecido qual aquele que a Adele precisou enfrentar alguns anos atrás. Além das comparações pessoais obvias entre os dois (ambos estão na casa dos vinte e poucos anos, ambos britânicos, ambos não possuem a imagem clássica de um popstar), Sam e Adele dividem várias semelhanças em suas carreiras. Seus primeiros grandes sucessos foram feitos após seus corações terem sido quebrados, os dois possuem uma sonoridade no mesmo nicho (pop soul/R&B), ambos têm vozes poderosas, ambos venceram vários Grammys, ambos venderam milhões de cópias, indo contra a correnteza atual de vendas de álbuns minguados. Resumidamente e dentro de alguns limites, Sam Smith meio que pode ser considerado como uma resposta masculina da Adele. Então, não é difícil perceber que o segundo álbum de Sam aparece com as mesmas questões do lançamento de 25: será possível Sam manter a mesma formula de sucesso, sabendo evoluir sonoramente e continuar com a mesma essência? E, assim como Adele, Sam Smith consegue responder todas essas questões positivamente com o ótimo The Thrill Of It All.

Sonoramente, o álbum mantém o espírito básico de In the Lonely Hour ao ser um cativante, comercial, tocante coleção de baladas/mid-tempos pop soul/R&B. O que muda aqui é o fato da sonoridade de Sam soar bem mais coesa, madura e com algumas influências mais acentuadas como é o caso do gospel. Essa influência é a responsável por dar substância diferente para as construções instrumentais em nas canções em The Thrill Of It All. Assim sendo, o álbum parece soar maior e com uma atmosfera envolvente e inspiradora como poucos álbuns nesse ano. Claro, não é a revolução da roda, mas é a perfeita para ser o pilar principal dos dois principais pontos do álbum: a composição e a voz de Sam.

Qualquer um que já ouviu Sam cantar sabe que ele é dono de uma das mais belas vozes masculinas surgidas nos últimos dez ou quinze anos. Isso é fato. O que o cantor mostra aqui é um pouco diferente que a gente já tinha ouvido antes. Completamente confiante no seu instrumento, a maturidade conquista nos últimos anos ajudou a voz de Sam a ganhar contornos realmente interessantes. Apesar de possuir um potencial incrível e um falsete poderoso, a verdadeira beleza da voz de Sam está principalmente nos tons graves em que somos contemplados com performances maravilhosas. Simples, ternas, melancólicas, emocionantes são apenas alguns adjetivos que podem definir Sam vocalmente em The Thrill Of It All. Apesar de estar tão bem com os vocais, a maior qualidade do álbum são as suas composições. Longe de qualquer medo que a sua homossexualidade possa causar danos a sua carreira, Sam não tem medo de colocar em visibilidade o seu amor por outro homem ao usar pronomes masculinos. Isso pode até parecer um detalhe menor, mas a verdade é que sem as amarras de deixar tudo "neutro" o cantor entrega as suas melhores letras até o momento, entregando momentos de uma emoção pura e completamente genuínos. 

Corações quebrados e desilusões são as bases principais, mas, assim como o álbum de Adele, o momento que o cantor passa é mais positivo e sobre remendar velhas feridas que foram abertas. E, novamente, Sam nos convida para espiar dentro do seu coração para que possamos nos ver refletidos em cada sentimento, pois não há como ficar mais real que no álbum. Temos o momento que decidimos que aquele amor é tóxico em Too Good At Goodbyes ou que já está na hora de seguir em frente em Midnight Train. O momento de seguir em frente em One Last Song. O momento de amar sem ter medo em Say It First ou que ainda ama e quer de volta em Burning ou ainda sofremos pelo fim em No Peace. O momento de acertar as contas com algo maior em HIM ou Pray. The Thrill Of It All é o perfeito veículo para Sam Smith alcançar o mesmo que a Adele já consolidou: o seu verdadeiro lugar na música.

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