30 de novembro de 2017

Primeira Impressão

MASSEDUCTION
St. Vincent


Uma das coisas que aprendi nessa quase uma década de blog é que o pop é muito, mais muito, mais muito maior e rico que o censo comum diz. Na verdade, esse censo nasce da nossa percepção que apenas o que faz sucesso ou/e está no mainstream pode ser considerado realmente pop. Com uma mente bem mais aberta tenho a capacidade de ter um olhar que possibilite distinguir o melhor do pop em nichos completamente diferentes e distantes do tradicional censo comum. Assim sendo, ter a capacidade de ouvir MASSEDUCTION, quinto álbum da artista alternativa St. Vincent, e poder considerar o trabalho como um dos melhores álbuns pop, se não o melhor, do ano é algo que realmente me deixa feliz.

Apesar de ter uma carreira desde 2007 e com aclamação da critica desde então, St. Vincent, nascida Anne Erin "Annie" Clark, nunca desfrutou do sucesso comercial que ficasse no mesmo nível que o sucesso critico. Isso não impediu da cantora de construir uma carreira respeitável, ganhando um Grammy em 2015 e fixando o seu nome como uma força do pop. St. Vincent não precisou, porém, seguir as regras sobre o que é fazer pop. Em MASSEDUCTION, a cantora parece que encontrou o preciso instrumento para elevar a sua sonoridade: a co-produção de Jack Antonoff, mais conhecido pelo trabalho com a Lorde e, principalmente, a Taylor Swift. Com essa parceria, MASSEDUCTION resulta em um inspirado e delicioso álbum pop.

Nitidamente dona de si, St. Vincent cria ao lado de Jack um enxuto, certeiro, muito bem acabado, divertido, inteligente, atual, original, cheio de personalidade, carismático, coeso e, principalmente, divertidíssimo álbum eletropop com toques de glam rock, indie pop e new wave. Sejamos sinceros, quantos álbum neste ano podem se gabar de alcançarem tudo isso? É necessário dizer, porém, que a sonoridade de MASSEDUCTION é pop em sua essência, mas, assim como os trabalhos anteriores da cantora, não é para qualquer público já que não não parece com as canções que estão nos topos das paradas pop. Cheias de texturas e nuances nas construções dos arranjos, o álbum vai quebrando expectativas ao criar uma coleção de faixas que complexas sem precisar parece pretensiosas. Assim também caminham as letras do álbum: substancialmente simples, mas com uma estética riquíssima e mensagens que encontram ressonância em temas profundos, atuais e longe do que é se esperado para uma canção pop. Esse é o caso da melhor faixa do álbum Pills, falando sobre o uso desenfreado de remédios na nossa sociedade. Além disso, a canção tem uma produção sensacional que, em um mundo perfeito, seria um dos grandes sucessos do ano. Infelizmente, o álbum tem um erro que resulta em um empecilho que impede MASSEDUCTION de ser genial: a metade para o final é recheada de baladas que quebram o ritmo do álbum, apesar de manterem o mesmo nível criativo e técnico que as faixas anteriores. Isso não impede que o álbum ainda conte com outros momentos geniais em Los AgelessSavior, a tocante Happy Birthday, Johnny e a que dá nome ao álbum Masseduction. St. Vincent mostra-se que não é a diva pop que a gente merece, mas a diva pop que a gente precisa.

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