11 de janeiro de 2019

Antes Tarde do Que Nunca

This Is Me...Then
Jennifer Lopez




Quem gosta de música assim como eu irá se identificar com essa situação: a existência de um álbum que você sabe que não é o melhor da história, mas, por algum ou vários motivos, você sempre irá gostar e defende-lo. Então, o meu álbum que entra nessa categoria é o This Is Me...Then, terceiro álbum da carreira da Jennifer Lopez. E, acredito, que não exista  melhor álbum para começar o meu 2019 escutando e, principalmente, fazendo uma defesa aqui no Antes Tarde do Que Nunca. Antes, porém, é necessário uma contextualizada.

Lançado no final de 2002, This Is Me...Then coincide com o momento de maior efervescência na carreira de Jennifer, quando a mesma ganhou status de estrela do primeiro escalão de Hollywood. Com três álbuns bem sucedidos lançados (sendo um deles apenas de versões remixes) e três números um na Billboard, a cantora estava no auge do seu estrelato musical, mesmo sem ser exatamente a queridinha dos críticos. Além disso, a sua carreira no cinema ia na mesma pegada com alguns sucesso de bilheterias ligados ao seu nome. Entretanto, o grande "boom" de fama que aconteceu nessa época foi, na verdade, criado pela vida pessoal. Logo após uma separação, Jennifer começou um relacionamento com o então garoto de ouro de Hollywood: Ben Affleck. Não demorou muito para o namoro que virou noivado se tornar o principal assunto dos tablóides americanos, esmiuçando cada pequeno detalhe do relacionamento. Intitulado como Bennifer, o casal e o circo mediático envolta é considerado por muitos como o primeiro supercouple da era da internet, o que ajudou a criar o que as pessoas chamam hoje de "shipper". Claro, o relacionamento deles não durou muito tempo, atrapalhando as carreiras de ambos durante um tempo. Entretanto, o imbróglio gerou frutos, pois This Is Me...Then teve como muso inspirador o ator e ajudou a cantora a solidificar a sua carreira naquele momento. Outro fato importante é que o primeiro single, Jenny from the Block, foi vazado pelo presidente da Sony naquela época, Tommy Mottola (conhecido como ex-marido da Mariah Carey), o que resultou na antecipação do lançamento do álbum. E, assim, nasce o terceiro álbum de Jennifer Lopez. Escolhi o álbum por dois motivos: primeiro, This Is Me...Then foi um dos meus primeiros álbuns comprados em uma época que ainda se vendia em massa mídias físicas e ter um era um verdadeiro luxo, marcando boa parte do começo da minha adolescência. Em segundo, colocando o meu carinho pelo álbum de lado, acredito realmente que o mesmo seja um trabalho melhor que as criticas da época pintaram. Apesar de ter a característica de ser um trabalho romântico em homenagem ao então "amor da sua vida", J.LO entrega em This Is Me...Then o seu melhor álbum devido ao uma produção elegante, eficiente e com uma visão clara do produto que seria entregue. 

Ao contrário da maioria dos outros trabalhos da cantora antes ou depois, This Is Me...Then é o único que tem uma noção de completude do começo ao fim ao saber exatamente qual a sonoridade que quer mostrar. Diferente do que a cantora faziam anteriormente ao ir do pop para o R&B/hip hop para o latin pop e até mesmo para gêneros mais tradicionais da música latina, o terceiro álbum é um direto e sólido trabalho de R&B/pop soul do começo ao fim. E não é qualquer R&B/pop soul: a sonoridade do álbum é toda baseada na construção vintage/old school desses gêneros, especialmente os ouvidos durante os ano '70 e começo do '80. Essa mudança foi algo tão grande que poderia ser esperado um grande flop, mas o álbum foi muito bem de vendagem (o último grande sucesso até o momento na carreia da J.LO). Voltando a sonoridade, o trabalho pode até não ganhado os amores de parte da critica, mas, queridos leitores, o tempo foi bem gentil para a percepção de This Is Me...Then.


É bom apontar que não estamos diante de um álbum genial ou inovador, mas, sim, de um trabalho divertido, bem produzido, carismático e com uma fluidez pouco comum em trabalhos de divas pop desse tamanho de popularidade. A qualidade principal, porém, é o fato da sonoridade olhar para o passado sem perder, porém, a capacidade de criar um trabalho essencialmente comercial, sabendo evidenciar a diva que está por trás. Claro, aqui ouvimos uma Jennifer romântica, sonhadora e terna, mas tem como base a explosão latina que ajudou a sua carreira explodir. Misturando com a atmosfera vintage, This Is Me...Then se torna um dos poucos álbuns pop daquela época a realmente ter uma cara bem definida e uma personalidade distinta de verdade. O álbum já começa avisando que a J.LO ouvida aqui é bem diferente da outra J.LO: Still é uma fofa e deliciosa pop soul/funk que marca profundamente a mudança de sonoridade para o álbum. Outra característica importante do álbum é que a produção se baseia pesadamente no uso de sample de canções das décadas referenciadas anteriormente para construir as faixas no álbum. Isso é algo que poderia resultar em uma colcha de retalhos sem acabamento, mas, felizmente, o resultado é satisfatoriamente bem orquestrado. O problema que impede do álbum de poder ir além do "satisfatório" é a contestável experiência com a sonoridade que boa parte dos produtores apresentavam. Nas mãos de nomes com maior força artística, provavelmente, i álbum poderia resultar em algo muito mais interessante ao cair de cabeça no conceito proposto. De qualquer forma, apesar da qualidade nesse aspectos, o problema em This Is Me...Then está em outro lugar.

Liricamente, o álbum é bastante fraco e, primordialmente, clichê. Claro, um trabalho que é essencialmente uma grande declaração de amor não poderia não ter sua cota de breguice, mas em This Is Me...Then a cota é extrapolada ao um nível quase sem volta. Na maior parte das onze faixas podemos ouvir uma Jennifer melosa, derretida ao extremo e, por várias vezes, até se diminuindo perante ao seu "homem". Se isso não bastasse, ainda existe uma falta de criatividade técnica na construção das composições, utilizando versos simplistas e pobres em substância, que deixa várias canções menores do que poderiam ser de verdade. Um bom exemplo disso é a delicada e fofa Loving You que poderia brincar com uma composição mais profunda, dando um contraste interessante para o resultado final. Invés disso, a faixa é uma mediana declaração sobre amar para sempre (como se isso aconteceu de verdade, né?). Entretanto, o pior momento é balada sensual/contemplativa R&B intitulada Dear Ben que, claramente, é uma ode a "perfeição" do namorado. Esse problema com as composições aferam em parte até os grandes momentos de This Is Me...Then como é o caso do até o momento último número um da carreira de Jenny: All I Have é uma gostosíssima hip hop/soul saída diretamente dos ano '80 com participação do rapper LL Cool J que tem alguns momentos de fazer corar na composição como, por exemplo, quando o rapper declama It makes a cat nervous, the thought of settling down / Especially me, I was creeping all over town. Outro problema no álbum é a voz da cantora que, apesar de ter melhorado ao longo dos anos, ainda soava frágil e com uma sensação sempre presente que o instrumental e os backvocals irá engoli-la. Esse problema, felizmente, não afeta muito o resultado final, pois, além do carisma nato da cantora, o estilo que as canções forma construídas não necessita de uma grande voz para entoa-las. Isso ajuda a uma baladona que parece tão poderosa como a prazer culposa Baby I Love U! sair melhor do que esperado. Outro momento inesperado é a boa regravação de Carly Simon em You Belong to Me. Todavia, os melhores momentos do álbum ficam por conta de outras faixas: a pouco apreciada I'm Glad com a sua irresistível e sensacional sonoridade pos-disco/dancepop/funk e, claro, o genial clipe e a icônica Jenny from the Block . O que acontece aqui para que, apesar dos problemas, para o álbum ser uma obra que na minha opinião tenha sido mal avaliada ao ser lançada é o fato da loucura que estava a vida de Jennifer Lopez naquela época. Então, This Is Me...Then merece uma segunda chance, mesmo que seja apenas para matar as saudades de quem viveu aquele época.


Um comentário:

lucas lopes disse...

Meu álbum favorito dela. Acho icônico demais. Luxuoso, mas, sim, um tanto piegas. Mas nada que comprometa. E ainda tenho o cd físico e estava ouvindo dia desses. I'm Glad é uma das maiores canções pop subestimada. Enfim, um primor. Pena qje ela se perdeu ao longo dos anos.