15 de janeiro de 2019

Top 30 - Melhores Álbuns (Final)




Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV


5. Bloom
Troye Sivan


"Desde o auspicioso primeiro álbum (Blue Neighbourhood) já deu para perceber que Troye era um talentoso cronista sobres as dores e prazeres de ser um jovem gay (ou não) que não se enquadra nos padrões nos dias de hoje. Em Bloom, porém, essa característica é refinada e apurada quase a perfeição ao fazer do álbum um sensível, inteligente, emocionante, tocante, sensual, sincero, divertido, ousado, melancólico e espirituoso diário sobre o coming of age de um jovem gay descobrindo e explorando o mundo. Falando sobre assuntos como descoberta sexual, desejos, corações quebrados, dores de cotovelo, paixonites e auto conhecimento, Troye construí um dos álbuns pop de maior alcance temático dos últimos tempos e de uma profundidade impressionante sem que em nenhum momento soe pedante ou muito menos perder o senso que, no final das contas, Bloom é um álbum pop. Uma das faixas que melhor mostra a qualidade lirica do álbum é a irresistível faixa que dá nome ao álbum: Bloom é, como disse o próprio Troye, um hino para os passivos, mas, falando bonito, a faixa é uma sobre a exploração sexual por um jovem em descobrimento próprio que não esquece der ser uma refinadíssima canção pop. E essa é a melhor definição para a sonoridade do álbum: pop refinadíssimo."

4. A Brief Inquiry Into Online Relationships
The 1975


"A primeira dica que o álbum irá enveredar por esse caminho vem logo de cara com o título A Brief Inquiry Into Online Relationships que traduzido fica algo como "um rápido inquérito sobre as relações online", mostrando uma das principais características dessa geração: a íntima e complexa relação com a tecnologia, especialmente com a internet. Partindo dessa premissa, o álbum irá discutir, criticar, refletir e explicar essas as relações humanas sob a luz do novo milênio em que tudo marchar na mesma velocidade da conexão. Um excepcional exemplo é a sensacional faixa The Man Who Married A Robot / Love Theme: uma estranha e fascinante história sobre um homem que se apaixonou pela internet. Além da produção original ao ser uma poesia declamada que foi musicalizada, a composição vai além da estranheza da história ao fazer uma certeira ao explicar sobre a solidão moderna em que as pessoas estão vinte e quatro horas conectados com o mundo todo, mas, na realidade, está completamente sozinho. A reflexão pode até ser profunda, mas o The 1975 apresenta outra característica fundamental: a leveza e inteligência que as letras são construídas.

Apesar de falarem sobre assuntos que poderiam sem nenhum problema precisar de um estofo dendo e complexo nas elaborações liricas, A Brief Inquiry Into Online Relationships vai na direção contrária ao apresentar uma atmosfera leve, sem grandes construções sintáticas e que nunca parece querer soar "inteligentão", transitando entre o divertido e o melancólico, passando pela doçura e a acidez e chegando ao despretensioso e o bem intencionado. Obviamente, essa sensação engana quem escuta as canções, pois por baixo da cala superfície existe uma redemoinho de mensagens que estão em plena explosão de sentidos que elevam as canções. It's Not Living (If It's Not With You), por exemplo, é uma leve e bonitinha canção sobre se apaixonar a primeira vista, mas, na verdade, fala sobre a dificuldade de se relacionar no mundo real depois de sentir a falsa realidade que a internet oferece. E mesmo que o álbum seja feito por e para os membros dessa geração millennial, a sonoridade de A Brief Inquiry Into Online Relationships tem ficado os dois pés em gerações passadas."

3. By The Way, I Forgive You
Brandi Carlile


"By The Way, I Forgive You é liricamente o que apenas posso denominar como uma gentil tormenta de emoções. Parece contraditório definir as composições como uma "gentil tormenta", mas é exatamente esse sentimento que a gente senti após terminar de ouvir o álbum. E, sejamos sinceros, essa é uma das funções da música, mas que parece tão renegadas à um segundo no atual cenário. Por isso, By The Way, I Forgive You é tão precioso nesse sentido, pois dá para quem ouve uma verdadeira experiência de emoções, principalmente devido ao fato de falar sobre assuntos tão comuns da nossa vida. E é nesse momento que o álbum brilha ainda mais ao conseguir elevar esses simples e corriqueiros sentimentos/emoções em algo tão poderoso como uma tormenta. Em The Mother, por exemplo, Brandi faz uma homenagem a sua filha Evangeline ao "listar" toda a loucura banal que a uma criança traz para a vida de seus pais. Nada mais "comum", mas, nas palavras de Brandi, vira algo com uma força emoção tocante e uma beleza poética deslumbrante. Sem precisar, porém, criar complicadas e rebuscadas sentenças, sendo desconcertadamente direta e de uma sinceridade cativante. Além disso, a maneira como a cantora coloca essas letras sem necessariamente soar como amarga ou raivosa, mesmo em composições que poderia pedir esse tipo de abordagem como é o caso de Most Of All sobre o que herdamos de nossos pais e como lidamos com essa carga para o resto da vida. A canção poderia cair naquele lugar de "reclamar" de reclamar dos nossos pais, mesmo sendo válida essa decisão, Brandi segue o caminho da delicadeza em todos os momentos, deixando By The Way, I Forgive You exatamente como descrevi no começo desse parágrafo: uma gentil tormenta de emoções. E olha que as canções já citada nem são exatamente os melhores momentos do álbum."

2. Bluesman
Baco Exu do Blues


"Baco Exu do Blues une perfeitamente influências do rap nacional, da música popular brasileira como, por exemplo, samba e ritmos de origem africana e, também, gêneros americanos como é o caso do R&B, jazz e, principalmente, o blues que já é referenciado no primeiro verso quando Baco afirma que o gênero é "o primeiro ritmo a formar pretos ricos". Esse caldeirão poderia resultar em algo disfuncional e sem nenhuma coerência, mas, felizmente, o resultado vai totalmente na contramão da expectativa ao ser uma explosiva, avassaladora e impressionante coleção de canções que são inundadas de camadas sonoras que apenas reforçam a riqueza artística da mente de Baco. Ousando em cada canção e refletindo pesadamente as influências de rappers americanos, o brasileiro consegue não renegar as raízes brasileiras em nenhum, conseguindo criar um trabalho que transcende qualquer expectativa e criar algo que parece ser completamente original e a frente do seu tempo. Veja o caso da espetacular Minotauro de Borges que mistura tambores africanos, samba e rap em um trabalho inesquecível e com uma mensagem desconcertante. E, senhoras e senhores, Baco está mais do que disposto a passar a sua mensagem ao socar a ferida sem dó e nem piedade."

1. Palo Santo
Years & Years


"Palo Santo é um álbum que entrega uma personalidade esplendida ao saber reverenciar o passado com o olho no presente. Resumidamente um álbum pop em seu cerne mais intimo, o trabalho busca na sonoridade pop/dance-pop dos anos noventa uma base para sustentar a suntuosidade rítmica que a banda desenvolve no álbum. A produção dividida entre nomes mais conhecidos (Steve Mac, Greg Kurstin e Jesse Shatkin) e nomes em ascensão (GRADES, Two Inch Punch e Mark Ralph) consegue dar para o trabalho uma força descomunal ao ir direto ao núcleo central sobre o que é constituído o pop sem precisar de subterfúgios para tal feito. Frenético do começo ao fim, Palo Santo não perde a cadencia nem quando aparece canções com pegadas de baladas. Inspirado em todos os momentos, Palo Santo não tem faixas fillers já que consegue manter a mesma qualidade em todas. Coeso e fluido, Palo Santo é tipo de álbum que a gente ouve inteiro várias e várias vezes. Divertido, cheio de referências, carismático, dançante, emocionante e de um senso estético perfeito, Palo Santo é uma obra que não se prende a fazer apenas o pop perfeito.

Tecnicamente, o Years & Years constrói para o álbum uma das mais ricas instrumentalização dos últimos anos para um trabalho pop. Consistente o tempo todo e de uma beleza cheia de nuances e texturas sensacionais, Palo Santo é dono de uma atmosfera que parece transitar entre o erótico, o sombrio, o despretensioso, o sagrado e o profano sem perder a essência de ser um álbum pop. Na verdade, esse é um dos melhores atributos do álbum ao parece ser apenas um álbum pop, mas, na verdade, ter uma profundidade verdadeira e tocante. Parte dessa característica vem das excepcionais composições capitaneadas pelo vocalista da banda Olly Alexander. É dele que vem as temáticas principais do álbum ao elaborar letras que tocam em assuntos delicados como culpa, sexo, religiosidade e amores disfuncionais, sendo explorados a traves de uma visão queer que dá uma nova dimensão para as canções. 

Dimensão e também complexidade, pois as composições em Palo Santo mostram um nível de pessoalidade e intimismo ao dar para os ouvintes uma visão sobre a vida de Olly, ajudando a criar uma faceta quase pouco vista no mainstream pop. Normalmente, recheado por divas que arrastam multidões de um público formado em boa parte por LGBTQs, o Years & Years mostra um outro lado, dando ainda mais voz para esse público sem precisar exatamente "militar". Só da presença da banda nessa configuração já é algo importantíssimo para a comunidade. E isso não é apenas a principal qualidade lirica do álbum, pois esteticamente estamos diante de trabalhos perfeitos com refrões viciantes ao extremo e uma inteligencia em construir versos da mais perfeita síntese pop. 

Completamente dono do álbum e confiante em todos os momentos, Olly entrega vocalmente uma coleção de performances de puro brilhantismo, aproveitando do seu doce e melancólico timbre para dar uma cara completamente único para cada canção em Palo Santo. Além disso, os efeitos vocais são usados na medida certa para tirar o melhor de cada performance sem estragar o resultado final em nada. Sem a presença do vocalista, o álbum provavelmente não teria o mesmo impacto. É complicado falar quais os melhores momentos do álbum, pois são quase todas as faixas. Então, tentei resumir nas faixas que considero apenas a nata de Palo Santo: começa com o brilhante primeiro single Sanctify, passa pela dançante dance-pop Hallelujah, a balada emocionante Hypnotised, o outro sensacional single If You're Over Me, a genial que dá nome ao álbum Palo Santo e duas que fazem parte da versão deluxe Howl e Don't Panic. Entregado o melhor álbum até o momento de 2017, o Years & Years pode irá surpreender muitos com essa obra de arte pop que deveria virar inspiração para muitos artistas, inclusive até mesmo para os grande nomes. E isso é algo que deve ser louvado. Amém."

Nenhum comentário: